Ser amável como Dom Bosco (2/2)
(continuação do artigo anterior)
5) Ser autênticos
Na era digital, as pessoas autênticas são muito importantes. Elas não se exibem, não tentam se encaixar em um molde, sentem-se confortáveis com quem são e não têm medo de mostrar isso. Elas expressam seus pensamentos e sentimentos com total honestidade, sem se preocupar com o que os outros possam pensar, criando um ambiente de honestidade e aceitação.
Em suas Memórias, está registrada esta declaração convicta: “Eu era temido por todos os companheiros, mesmo pelos mais velhos em idade e estatura, por minha coragem e força impetuosa”.
“É inútil”, dirá por sua vez o P. Cafasso, “ele quer fazer as coisas a seu modo; no entanto, é preciso deixar que ele as faça; mesmo quando um projeto seria desaconselhável, Dom Bosco consegue”. Ressentida por não tê-lo conquistado para sua causa, a Marquesa Barolo o acusou de ser “teimoso, obstinado, orgulhoso”.
São bons tijolos. Ele sabe como usá-los bem para construir uma obra-prima.
A simplicidade.
Muitas pessoas precisam fingir ser diferentes, para parecerem mais fortes do que são, querer ser o que não são.
As flores simplesmente desabrocham. A leveza silenciosa é o que elas são. A pessoa simples é como os pássaros no céu. Às vezes, a canção; mais frequentemente o silêncio; mas sempre a vida. Dom Bosco vive enquanto respira. É sempre ele. Nunca duplo, nunca pretensioso, nunca complexo. Inteligência não é confusão, complicação, esnobismo. A realidade é complexa, sem dúvida. Não poderíamos descrever facilmente uma árvore, uma flor, uma estrela, uma pedra… Isso não as impede de serem simplesmente o que são. A rosa não tem um porquê, ela floresce porque floresce, não se preocupa consigo mesma, não quer ser vista…
As Memórias contam que em 1877, em Ancona, “Dom Bosco foi celebrar a missa por volta das dez horas na igreja de Jesus, dirigida pelos Missionários do Preciosíssimo Sangue. Um jovem lhe serviu a missa, e nunca mais se esqueceu daquele encontro pelo resto de sua vida. Viu entrar na sacristia um “padrezinho” baixo, modesto de rosto e de atitude, totalmente desconhecido. Mas “naquele rosto moreno” ele viu algo de uma bondade atraente, que imediatamente despertou nele um misto de curiosidade e reverência. Enquanto celebrava, ele percebeu que havia algo de especial nele, algo que convidava ao recolhimento e ao fervor. No final da missa, depois da ação de graças, o padre colocou a mão em sua cabeça, deu-lhe dez centavos, quis saber quem ele era e o que fazia, e lhe disse algumas palavras bonitas. Quarenta e oito anos depois, aquele jovem, cujo nome era Eugenio Marconi e que era aluno do Instituto Bom Pastor, iria escrever: “Oh, a doçura daquela voz… a afabilidade, o afeto contido naquelas palavras! Fiquei confuso e comovido”. Pouco tempo depois, ele descobriu que o “padrezinho” era Dom Bosco, de quem foi amigo dedicado por toda a vida.
O oposto de simplicidade não é complicação, mas falsidade. Simplicidade é nudez, espoliação, pobreza. Sem outra riqueza a não ser tudo. Sem outro tesouro que não seja nada. Simplicidade é liberdade, leveza, transparência. Simples como o ar, livre como o ar. Como uma janela aberta para o grande sopro do mundo, para a presença infinita e silenciosa de tudo.
Onde sopra o Espírito do Evangelho: “Vede os pássaros que vivem em liberdade: eles não semeiam, não colhem, não colocam suas colheitas em celeiros… mas o vosso Pai, que está nos céus, os alimenta! Pois bem, não são vocês muito mais importantes do que eles?” (Mt 6,26).
As Memórias Biográficas afirmam tranquilamente: “Era evidente que ele se atirara nos braços da Divina Providência, como uma criança nos braços de sua mãe” (MB III, 36 – MBp III, 42).
Tudo é simples para Deus. Tudo é divino para os simples. Até mesmo o trabalho. Até mesmo o esforço.
6) Ser resiliente
A vida é cheia de surpresas. As coisas nem sempre correm bem e, às vezes, enfrentamos desafios que testam nossa força e determinação. Nesses momentos, a resiliência é uma qualidade poderosa. Trata-se de ter a força mental e emocional para se recuperar diante da adversidade, para seguir em frente mesmo quando as coisas ficam difíceis. E isso é algo que as pessoas admiram. Ter alguém ao seu lado que encarna a coragem pode ser uma fonte incrível de inspiração. Acho que o melhor título para uma vida de Dom Bosco é Joãozinho Sempre-em-Pé.
Dom Cagliero recorda: “Nos 35 anos em que estive ao seu lado, não me lembro de tê-lo visto um único momento, desanimado, aborrecido ou inquieto por causa das dívidas que muitas vezes o sobrecarregavam. Ele dizia com frequência: «A Providência é grande e, assim como pensa nos pássaros do céu, pensará em meus jovens».
“Veja, sou um padre pobre, mas se me sobrasse apenas um pedaço de pão, eu o repartiria com você”. Essa foi a frase mais repetida por Dom Bosco.
Os verdadeiros amigos são como as estrelas… você nem sempre as vê, mas sabe que elas estão sempre lá.
7) Ser humildes
As pessoas humildes não precisam de elogios ou reconhecimentos constantes para se sentirem bem consigo mesmas e não sentem a necessidade de provar seu valor aos outros. Além disso, elas têm uma mente aberta e estão sempre dispostas a aprender com os outros, independentemente de seu status ou posição.
Dom Bosco nunca teve vergonha de pedir esmolas. Humilde e forte, como sua Mestra havia lhe pedido. Ele mantinha a cabeça erguida com todos.
8) Espalhar a ternura
Miguel Rua se afeiçoou a Dom Bosco, aquele sacerdote ao lado do qual se sentia alegre e como que cheio de calor. Miguelzinho morava na Real Fábrica de Armas, onde seu pai havia sido empregado. Quatro de seus irmãos haviam morrido muito jovens, e ele era muito frágil. Por isso, sua mãe não o deixava ir muitas vezes ao oratório. Mas ele encontrou igualmente a Dom Bosco junto aos Irmãos das Escolas Cristãs, onde cursou a terceira série elementar. Ele contou:
“Quando Dom Bosco vinha rezar a missa e pregar para nós, assim que entrava na capela, parecia que uma corrente elétrica passava por todas aquelas numerosas crianças. Nós pulávamos em pé, saíamos de nossos lugares e nos amontoávamos em torno dele. Demorava muito tempo para ele chegar à sacristia. Os bons Irmãos não conseguiam evitar aquela aparente desordem. Quando vinham outros padres, nada disso acontecia”.
Dom Bosco era tão atraente quanto um ímã. Há um episódio cômico e terno, narrado nas Memórias Biográficas de Dom Bosco com a leveza dos “Fioretti”:
“Uma tarde, Dom Bosco caminhava por uma calçada da Rua Doragrossa, atualmente Rua Garibaldi, e passou diante de uma magnífica vitrine de uma loja de tecidos, cujo vidro ocupava toda a largura da porta. Um rapaz do Oratório, que ali trabalhada como empregado, vendo Dom Bosco, no primeiro impulso do seu coração, sem pensar que a porta estava fechada, correu para saudá-lo, mas bateu com a cabeça no vidro e o reduziu a cacos. Ouvindo o rumor dos vidros caindo, Dom Bosco parou e abriu a porta. O menino, todo mortificado, chegou perto dele, e o patrão saiu da loja, levantou a voz e gritou; os passantes logo se amontoaram. “O que você fez?” – perguntou Dom Bosco ao rapaz, e ele ingenuamente respondeu: “Eu vi o senhor passar e, pela grande vontade de cumprimentá-lo, não reparei que devia abrir a porta e acabei quebrando tudo”. (Memórias Biográficas III, 169-170 – MBp III, 135).
Era um sentimento explosivo de amizade que os meninos sentiam por Dom Bosco. Seguindo a linha de São Francisco de Sales, o cantor da amizade espiritual, Dom Bosco sentia que a amizade baseada na benevolência e na confiança mútuas parecia essencial para seu sistema preventivo.
Para Dom Bosco, a amizade era aquele “toque extra” que transformava um método educacional semelhante a outros em uma obra-prima única e original.
O P. Rua, Dom Cagliero e outros o chamavam de pai…
No final das contas, a bondade é o que mais importa. É a maneira como são tratados os outros, a compaixão demonstrada e o amor partilhado que realmente definem quem vocês são como pessoa. A gentileza pode ser tão simples quanto um sorriso, uma palavra de incentivo ou uma mão estendida. A ideia é fazer com que os outros se sintam valorizados e amados. Os meninos de Dom Bosco testemunharão com uma insistência quase monótona: “Ele me amava”. Um deles, São Luís Orione, escreverá: “Eu andaria sobre brasas para vê-lo mais uma vez e dizer-lhe obrigado”.
O menino não conseguia entender como Dom Bosco, que ele havia encontrado por acaso semanas antes no pátio, ainda se lembrava de seu nome. Ele tomou coragem e lhe perguntou: “Dom Bosco, como o senhor se lembrou do meu nome?”
“Nunca me esqueço de meus filhos!”, respondeu ele.
A um rapaz que estava deixando o Oratório por vontade própria, Dom Bosco, ao encontrá-lo, perguntou:
“O que você tem na mão?”
“Cinco liras que minha mãe me deu para comprar uma passagem de trem”.
“Sua mãe pagou a passagem para a viagem do Oratório até sua casa, e está bem. Agora pegue essas outras cinco liras. Elas são para sua passagem de volta. Sempre que precisar, venha me ver!”.
A atenção é uma forma de gentileza, assim como a desatenção é a maior grosseria que se pode fazer. Às vezes, é uma violência implícita, especialmente quando se trata de crianças: a negligência é corretamente considerada abuso quando atinge um limite insuportável, mas em pequenas doses faz parte das ignomínias comuns que muitas crianças são forçadas a suportar. A desatenção é o gelo: e é difícil crescer no gelo, onde o único consolo talvez seja uma televisão cheia de sonhos violentos ou consumistas. Atenção é calor e afeto, o que permite que o melhor potencial se desenvolva e floresça.
“Também preciso que as pessoas conheçam a importância dos Cooperadores Salesianos. Até agora, parece uma coisa pequena, mas espero que, por esse meio, uma boa parte da população italiana se torne salesiana e abra caminho para muitas coisas. A obra dos Cooperadores Salesianos… se espalhará por todos os países, se espalhará por toda a cristandade, chegará um tempo em que o nome Cooperador significará verdadeiro cristão… já posso ver não apenas famílias, mas cidades e vilarejos inteiros se tornando Cooperadores Salesianos.
Uma vez que as previsões de Dom Bosco se tornaram realidade, preparem-se para ver maravilhas neste século!
9) É assim que Dom Bosco pregava Deus
Aqueles que escrevem sobre ele estão flagrantemente errados quando tentam transformá-lo em um pedagogo ou mesmo em um genial inovador social. Certamente, Dom Bosco se preocupava com obras de caridade, como muitos outros, e também com a justiça social. No entanto, sua força excepcional reside no fato de que, em tudo o que fazia, ele confiava única e completamente em Deus.
“É realmente admirável”, exclamou um dos presentes, “a maneira como as coisas acontecem. Dom Bosco começa e nunca desiste”.
“É por isso”, prosseguiu Dom Bosco, “que nunca desistimos, porque sempre avançamos pelo lado seguro. Antes de empreender algo, nos certificamos de que é a vontade de Deus que as coisas sejam feitas. Começamos nossos trabalhos com a certeza de que é Deus quem os deseja. Tendo essa certeza, seguimos em frente. Pode parecer que mil dificuldades sejam encontradas ao longo do caminho; não importa; Deus assim o quer, e permanecemos intrépidos diante de qualquer obstáculo. Confio ilimitadamente na Providência Divina; mas a Providência também quer ser ajudada por nossos imensos esforços”.
Seus esforços sempre têm a cor do infinito.
Até mesmo Nietzsche afirma que a percepção da vida interior das pessoas é instintiva. Assim, os jovens têm uma aptidão natural para observar o que está por trás do exterior de uma pessoa. Eles têm antenas especiais para captar sinais que não podem ser observados por meios comuns. Eles são capazes de perceber o que está oculto para os outros.
Nossa antena espiritual nos torna sensíveis à beleza moral das pessoas, instintivamente nos faz notar a dimensão moral e espiritual de suas vidas.
Em 1864, Dom Bosco chega a Mornese com seus meninos, em seus passeios de outono. Já é noite. As pessoas vão ao seu encontro, precedidas pelo pároco, P. Valle, e pelo P. Pestarino. A banda toca, muitos se ajoelham quando Dom Bosco passa e pedem que ele os abençoe. Os jovens e o povo entram na igreja, é dada a bênção com o Santíssimo Sacramento e, em seguida, todos vão jantar.
Depois, incentivados pelos aplausos, os meninos do Dom Bosco fazem um breve concerto de marchas e músicas alegres. Na primeira fila está Maria Mazzarello, de 27 anos. No final, Dom Bosco diz algumas palavras: “Estamos todos cansados, e meus rapazes querem ter uma boa noite de sono. Amanhã, porém, falaremos mais longamente”.
Dom Bosco ficou cinco dias em Mornese. Todas as noites Maria Mazzarello pode ouvir a “boa noite” que ele dá aos seus jovens. Ela sobe nos bancos para se aproximar daquele homem. Alguém a repreende por esse gesto impróprio. Ela responde: “Dom Bosco é um santo, eu sinto isso”.
É muito mais do que apenas uma sensação. A quantas mulheres ele mudará a vida? Basta um movimento, um simples movimento do tipo que as crianças fazem quando correm para frente com toda a sua força, sem medo de cair ou morrer, alheias ao peso do mundo.
É novamente uma questão de espelho: ninguém voltou seu rosto para as mulheres mais do que Jesus Cristo, como se volta o olhar para a folhagem das árvores, como se inclina sobre a água de um rio para obter força e vontade para continuar seu caminho. As mulheres na Bíblia são numerosas. Elas estão presentes no início e no fim. Elas dão à luz a Deus, veem-no crescer, brincar e morrer, e depois o ressuscitam com gestos simples do amor incontido.
Ainda há aqueles que se preocupam com as demonstrações da existência de Deus. A demonstração mais perfeita de Deus não é difícil.
A criança perguntou à sua mãe: “Em sua opinião, Deus existe?”
“Sim.”
“Como é isso?”
A mulher puxou o filho para si.
Ela o abraçou com força e disse: “Deus é assim”.
“Entendi”.
O P. Paulo Álbera afirmou: “Dom Bosco educou amando, atraindo, conquistando e transformando. […] Ele nos envolvia a todos e quase inteiramente em uma atmosfera de contentamento e felicidade, da qual a dor, a tristeza, a melancolia eram banidas… Tudo nele exercia uma poderosa atração sobre nós: seu olhar penetrante, às vezes mais eficaz do que um sermão; o simples movimento de sua cabeça; o sorriso que aflorava perpetuamente em seus lábios, sempre novo e variado, mas sempre calmo; a flexão de sua boca, como quando se quer falar sem pronunciar as palavras; as próprias palavras cadenciadas de uma forma e não de outra; o porte de sua pessoa e seu andar delicado e alegre: todas essas coisas agiam em nossos corações juvenis como um ímã do qual era impossível escapar; e mesmo que pudéssemos, não o teríamos feito nem por todo o ouro do mundo, tão felizes estávamos com essa singular ascendência dele sobre nós, que era a coisa mais natural nele, sem qualquer afetação ou esforço”.
Sempre presente e vivo. Deus como companhia, ar que se respira. Deus como água para os peixes. Deus como o ninho quente de um coração amoroso. Deus como o aroma da vida. Deus é o que as crianças conhecem, não os adultos.
Agora vamos mudar o mundo (Willy Wonka)