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Sempre em atividade
A Providência, contudo, também deve ser “buscada”. E em agosto Dom Bosco escreve novamente ao Conde Cibrario, Secretário da Ordem Mauriciana, para lembrar-lhe que chegara o momento de honrar a segunda parte do compromisso financeiro que ele assumira dois anos antes. De Gênova, felizmente, recebeu ofertas substanciais do Conde Pallavicini e dos Condes Viancino di Viancino; outras ofertas chegaram-lhe em setembro da Condessa Callori di Vignale e também de outras cidades, Roma e Florença em particular.
No entanto, chegou um inverno intensamente frio, com o consequente aumento dos preços ao consumidor, inclusive do pão. Dom Bosco entrou numa crise de liquidez. Entre alimentar centenas de bocas e suspender os trabalhos de construção, a escolha é forçosa. O trabalho na igreja, portanto, estagnou, enquanto as dívidas cresciam. Assim, no dia 4 de dezembro, Dom Bosco pegou pena e papel e escreve a Roma ao habitual Cavalheiro Oreglia: “Recolha muito dinheiro, depois volte, porque já não sabemos onde conseguir mais. É verdade que Nossa Senhora sempre faz a sua parte, mas no fim do ano, todos os provedores pedem dinheiro”. Esplêndido!
9 de junho de 1868: soleníssima consagração da igreja de Maria Auxiliadora
Em janeiro de 1868, Dom Bosco fez o que pôde para completar a decoração interior da igreja de Maria Auxiliadora.
Em Valdocco a situação era ainda bastante séria. Dom Bosco escreveu ao Cav. Oreglia, em Roma: “Aqui continuamos com um frio muito intenso: hoje chegou a 18 graus negativos; malgrado o fogo da estufa, o gelo do meu quarto não pôde derreter. Atrasamos o despertar dos jovens, e como a maioria ainda está vestida para o verão, cada um vestiu duas camisas, um casaco, dois pares de calças, capotes militares; outros mantêm os cobertores sobre os ombros durante todo o dia e parecem mascarados para o carnaval”.
Felizmente, uma semana depois, o frio diminuiu e o metro de neve começou a derreter.
Enquanto isso, a medalha comemorativa estava sendo preparada em Roma. Dom Bosco, tendo-a em mãos, mandou fazer correções na inscrição e, para economizar, a espessura diminuiu pela metade. Mesmo o dinheiro arrecadado foi sempre menor do que a necessidade. Assim, a coleta para a capela de Sant’Ana promovida pelas nobres florentinas, em particular a condessa Virginia Cambray Digny, esposa do Ministro da Agricultura, das Finanças e do Comércio, em meados de fevereiro, era ainda um sexto do total (6000 liras). No entanto, Dom Bosco não perdeu a esperança e convidou a condessa para ir a Turim: “Espero que em alguma ocasião a senhora possa visitar-nos e ver com seus próprios olhos este, para nós, majestoso edifício, do qual se pode dizer que cada tijolo é uma oferta feita por aqueles que ora estão próximos e ora distantes, mas sempre por graça recebida”.

E era realmente isso, se no começo da primavera ele o repetiu ao seu cavalheiro habitual (e o imprimiria logo em seguida no livro comemorativo “Maravilhas da Mãe de Deus invocada sob o título de Maria Auxiliadora”): “Estou atolado nas despesas, das muitas notas a serem pagas, de todo o trabalho a ser retomado; faça o que puder, mas reze com fé. Penso que é a hora certa para quem deseja a graça de Maria! Vemos uma todos os dias”.
Preparativos para a festa
Em meados de março, o Arcebispo Riccardi fixou a consagração da igreja para a primeira quinzena de junho. Tudo já estava pronto: as duas torres campanárias na fachada, sobrepostas por dois arcanjos, a grande estátua dourada sobre a cúpula já abençoada pelo Arcebispo, os cinco altares de mármore com seus respectivos quadros, inclusive o maravilhoso de Maria Auxiliadora com o Menino nos braços, rodeada de anjos, apóstolos, evangelistas, num fulgor de luz e cores.
Um plano excepcional de preparação foi então posto em marcha. Em primeiro lugar, tratava-se de encontrar o bispo consagrante; depois, contatar os vários bispos para as celebrações solenes da manhã e da noite de cada dia da Oitava; depois, enviar convites pessoais a dezenas de insignes benfeitores, sacerdotes e leigos de toda a Itália, muitos dos quais deveriam ser dignamente hospedados em casa; finalmente, preparar centenas de jovens tanto para solenizar as cerimônias litúrgicas com os cantos, como para participar de sessões acadêmicas, jogos, desfiles, momentos de alegria e de exultação.
Enfim, o grande dia
Três dias antes de 9 de junho, os meninos do internato de Lanzo chegaram a Valdocco. No domingo 7 de junho, a ‘L’Unità Cattolica’ publicou o programa das celebrações; na segunda-feira 8 de junho chegaram os primeiros convidados e foi anunciada a chegada do Duque de Aosta representando a Família Real. Chegaram também os meninos do internato de Mirabello. Os cantores passaram horas ensaiando a nova missa do Maestro De Vecchi e o novo “Tantum ergo” do Padre Cagliero, bem como a antífona solene “Maria succurre miseris” do mesmo Cagliero, inspirada na polifônica “Tu es Petrus”, da basílica vaticana.
Na manhã seguinte, 9 de junho, às 5h30 da manhã, passando entre uma linha dupla de 1.200 meninos festivos e cantando, o Arcebispo fez a triplo giro pela igreja e depois com o clero entrou na igreja para realizar, a portas fechadas as cerimônias de consagração previstas para os altares. Somente às 10h30 a igreja foi aberta ao público, que assistiu à missa do Arcebispo e à seguinte, de Dom Bosco.
O Arcebispo voltou à tarde para as vésperas pontificais, solenizadas pelo coro triplo de cantores: 150 tenores e baixos ao pé do altar de São José, 200 sopranos e contraltos na cúpula, outros 100 tenores e baixos no lugar da orquestra. O Padre Cagliero dirigiu-os, mesmo sem ver a todos, através de uma engenhoca elétrica projetada para a ocasião.

Foi um triunfo de música sacra, um encanto, algo celestial. Indescritível foi a emoção dos presentes que, ao sair da igreja, puderam admirar também a iluminação externa da fachada e a cúpula sobreposta pela estátua também iluminada de Maria Auxiliadora.
E Dom Bosco? O dia todo, rodeado por uma multidão de benfeitores e amigos, além das palavras, nada mais fez do que louvar Nossa Senhora. Um sonho “impossível” tinha-se tornado realidade.
Uma oitava igualmente solene
Celebrações solenes alternavam-se de manhã e à noite durante toda a Oitava. Foram dias inesquecíveis, os mais solenes que Valdocco já havia visto. Não foi por nada que Dom Bosco os propagou imediatamente com a robusta publicação “Memória de uma solenidade em honra de Maria Auxiliadora“.
Em 17 de junho alguma paz voltou a Valdocco, os jovens hóspedes voltaram às suas escolas, os devotos às suas casas; à igreja faltavam ainda acabamentos interiores, ornamentos, móveis… Mas a devoção a Maria Auxiliadora, que a essa altura se tornara a “Madona di Don Bosco”, escapou rapidamente das suas mãos e se espalhou pelo Piemonte, pela Itália, pela Europa e pela América Latina. Hoje no mundo há centenas de igrejas dedicadas a ela, milhares de altares, milhões de pequenos quadros e imagens. Dom Bosco repete hoje a todos, como fez com o Padre Cagliero ao partir para as missões em novembro de 1875: “Entregai tudo a Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento e a Maria Auxiliadora e vereis o que são os milagres”.
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