🕙: 14 min.
image_pdfimage_print

Hospital-Zatti
Zatti e o hospital eram um binômio inseparável. O padre Entraigas se lembra de que, quando havia uma chamada telefônica, o coadjutor quase gritava: “Zatti-Hospital”. Sem perceber, ele expressava a realidade inseparável entre sua pessoa e o hospital. Ele se tornou responsável pelo hospital em 1913, após a morte do Padre Garrone e a saída de Jacinto Massini da Congregação; assumiu gradualmente todas as tarefas, mas era, antes de tudo e inequivocamente, o “enfermeiro” do São José. Ele não continuou a sua preparação de qualquer jeito; mas tentou aperfeiçoar o que havia aprendido empiricamente por meio do estudo pessoal. Ele continuou a estudar durante toda a sua vida e, acima de tudo, adquiriu uma grande experiência em seus 48 anos de prática no São José. O Dr. Sussini, que estava entre aqueles que trabalharam por mais tempo no São José, depois de afirmar que Zatti tratava os doentes “com santa vocação”, acrescenta: “Até onde sei, o Sr. Zatti, desde que o conheci, sendo um homem maduro, já treinado, não havia negligenciado sua cultura geral, nem seu conhecimento de enfermagem e preparação farmacêutica”.
O Padre De Roia fala sobre a formação profissional de Zatti da seguinte maneira: “Sobre a questão da formação cultural e profissional, lembro-me de ter visto livros e publicações sobre medicina e perguntei-lhe uma vez quando ele os lia, e ele respondeu que o fazia à noite ou durante a hora da sesta dos pacientes, assim que terminava suas tarefas no hospital. Ele também me disse que o Dr. Sussini às vezes lhe emprestava alguns livros e vi que ele consultava com frequência o «Vademecum e Receituários»”.
O Dr. Pedro Echay afirma que, para Zatti, “o Hospital era um Santuário”. O Padre Feliciano López descreve a posição de Zatti no hospital da seguinte forma, após uma longa convivência com ele: “Zatti era um homem de governo, sabia expressar claramente o que queria, mas acompanhava suas ações com gentileza, respeito e alegria. Nunca perdia a calma; na verdade, ele minimizava as coisas com bom humor, mas seu exemplo de diligência era impressionante, e mais do que um diretor, sem título, ele se tornou uma espécie de trabalhador universal. Além disso, ele avançou rapidamente na competência profissional, até ganhar também o respeito dos médicos e, mais ainda, dos subordinados. Por isso, nunca ouvi dizer que naquele pequeno mundo de 60 ou 70 pacientes internados, nos primeiros tempos várias freiras, mulheres que prestavam seus serviços e algumas enfermeiras, nem sempre reinava a paz e, mesmo que, como é lógico, às vezes houvesse brigas, estas não degeneravam graças à prudência de Zatti, que sabia remediar os desvios”.
O Hospital São José era um santuário especial do sofrimento humano, onde Artêmides, em cada irmão e irmã necessitados, abraçava e curava a carne sofredora de Cristo, dando significado e esperança ao sofrimento humano. Zatti – e com ele muitos homens e mulheres de boa vontade – encarnou a parábola do Bom Samaritano: ele se aproximou, estendeu a mão, levantou e cuidou. Para ele, cada pessoa doente era como um filho a ser amado. Homens e mulheres, grandes e pequenos, ricos e pobres, inteligentes e ignorantes, todos eram tratados com respeito e amor, sem incomodar ou rejeitar os insolentes e desagradáveis. Ele costumava dizer: “Às vezes, pode acontecer alguém com um rosto simpático, outras vezes alguém antipático; mas diante de Deus somos todos iguais”.
Se havia pobreza de recursos, e se muitos dos que estavam hospitalizados eram pobres, mesmo assim Zatti, no hospital, dados os tempos, os lugares e as situações de todos os hospitais, mesmo os nacionais da época, seguia as regras corretas de saúde e higiene. Naquela época, eles procediam com critérios mais amplos, mas não há nenhuma evidência de que o salesiano coadjutor, como enfermeiro, tenha faltado com a justiça e a caridade para com os doentes. Era bem instruído para sua tarefa e bem experiente, sabia o que tinha de fazer e os limites de sua competência, e não há lembrança de qualquer erro, qualquer negligência ou qualquer acusação contra ele. O Dr. Sussini disse: “Em suas intervenções com os doentes, ele sempre respeitou os regulamentos legais, sem ultrapassar seus poderes […]. Gostaria de salientar que, em todas as suas intervenções, ele consultava algum médico entre aqueles que estavam sempre ao seu lado para apoiá-lo. Até onde sei, ele fez isso de forma correta. Até onde sei, ele não realizou nenhuma intervenção difícil […]. É certo que ele seguia as prescrições higiênicas estabelecidas, embora às vezes, devido à sua grande fé, as considerasse excessivas. O cenário socioeconômico no qual o Sr. Zatti realizava seu trabalho era principalmente de baixa renda e instrução. Em seu trabalho dentro do hospital, ele colocava em prática os conhecimentos bem estabelecidos de higiene e técnica que já conhecia e outros que aprendia perguntando aos profissionais. Fora do hospital, sua ação era mais difícil, pois mudar o ambiente existente era muito difícil e estava além de seus esforços”.
Luís Palma expande sua consideração: “Era de conhecimento geral em Viedma a discrição e a prudência do comportamento do Sr. Zatti; por outro lado, qualquer abuso nessa questão se tornaria rapidamente de conhecimento geral em uma pequena população como Viedma e nunca se ouviu falar nada. O Sr. Zatti nunca excedeu sua competência. Não acredito que ele tenha realizado operações difíceis. Se tivesse havido algum abuso, os médicos teriam relatado, mas eles apenas elogiaram o trabalho do Sr. Zatti […]. O Sr. Zatti tomou as devidas precauções higiênicas. Sei disso porque ele me tratou em várias ocasiões: injeções ou pequenos cuidados com toda a diligência”.
Para um homem que dedicou toda a sua vida com enorme sacrifício aos doentes, que era procurado por eles como uma bênção, que conquistou a estima de todos os médicos que colaboraram com ele e contra o qual nunca se poderia levantar uma voz de acusação, seria injusto ter contra ele algumas liberdades que sua experiência e prudência poderiam lhe permitir em alguma circunstância particular: o sublime exercício da caridade, mesmo nesse caso, valia mais do que a observância de uma prescrição formal.

Com o coração de Dom Bosco
Em Zatti se realizou o que Dom Bosco havia recomendado aos primeiros missionários salesianos que partiam para a Argentina: “Cuidai de modo especial dos doentes, meninos, velhos e pobres, e ganhareis as bênçãos de Deus e a benevolência dos homens”. Como um bom samaritano, Zatti acolheu na hospedaria de seu coração e no Hospital São José, em Viedma, os pobres, os doentes e os rejeitados pela sociedade. Em cada um deles visitou Cristo, cuidou de Cristo, alimentou Cristo, vestiu Cristo, abrigou Cristo, honrou Cristo. Como testemunhou um médico do hospital: “O único milagre que vi em minha vida foi o Sr. Zatti, devido à extraordinariedade de seu caráter, sua capacidade de servir ao próximo e sua extraordinária paciência com os doentes”.
Zatti era capaz de reconhecer um presente em cada irmão, em cada irmã, em cada pessoa especialmente pobre e necessitada que encontrava: ele era capaz de ver em cada um deles o rosto brilhante de Jesus. Quantas vezes ele exclamava ao receber uma pessoa pobre ou doente: “Jesus vem! – Cristo está chegando!”. Manter o olhar fixo em Jesus, especialmente na hora da provação e na noite do espírito, será a força que lhe permitirá não cair prisioneiro de seus próprios pensamentos e medos.
No exercício dessa caridade, Zatti fez transparecer o abraço de Deus por cada ser humano, especialmente pelos últimos e pelos que sofrem, envolvendo o coração, a alma e todo o seu ser, porque vivia com os pobres e para os pobres. Não era um mero serviço, mas uma manifestação tangível do amor de Deus, reconhecendo e servindo nos pobres e nos doentes a face do Cristo sofredor com a doçura e a ternura de uma mãe. Vivendo com os pobres, ele praticou a caridade com espírito de pobreza. Não era um funcionário ou um burocrata, um prestador de serviços, mas um autêntico trabalhador da caridade: e ao ver, reconhecer e servir a Cristo nos pobres e excluídos, ele também educava os outros. Quando pedia alguma coisa, ele a pedia para Jesus: “Dê-me alguma roupa para um Jesus idoso”; “Dê-me alguma roupa para um Jesus de 12 anos!”.
Impossível não se lembrar de suas aventuras ciclísticas, de suas incansáveis pedaladas, com seu clássico jaleco branco de pontas atadas e amarrado na cintura, saudado com ternura por todos os que encontrava em seu caminho. Na lenta marcha de sua bicicleta, ele tinha tempo para tudo: o cumprimento afetuoso, a palavra cordial, o conselho ponderado, alguma indicação terapêutica, a ajuda espontânea e desinteressada: seus grandes bolsos estavam sempre cheios de remédios, que distribuía aos necessitados com as mãos cheias. Ele estendia pessoalmente a mão a quem o chamava, esbanjando não só o conhecimento médico que possuía, mas também a confiança, o otimismo e a fé que irradiavam de seu sorriso constante, largo e doce e da bondade de seu olhar; o doente grave que recebia a visita do Sr. Zatti sentia o alívio imponderável que recebia da pessoa que estava ao seu lado; o doente que morria na presença de Zatti o fazia sem angústia ou espasmos. A caridade dispensada com tanta generosidade nas ruas lamacentas de Viedma bem merecia que Artêmides Zatti fosse lembrado na cidade com uma rua, um hospital e um monumento em seu nome.
Exercia um apostolado humilde que dava a medida de sua caridade, mas que lhe exigia muito tempo, trabalho, dificuldades e aborrecimentos. Como sua bondade e boa vontade em servir aos outros era conhecida por todos, todos o procuravam para as mais diversas coisas. Os diretores salesianos das casas da Inspetoria lhe escreviam para pedir conselhos médicos, enviavam-lhe irmãos para pedir ajuda e confiavam ao seu hospital pessoas incapacitadas para o serviço. As Filhas de Maria Auxiliadora não eram menos assíduas do que os salesianos no pedido de favores. Os emigrantes italianos pediam ajuda, escreviam para a Itália, solicitavam práticas. Os que haviam sido bem atendidos no hospital, como se fosse uma expressão de gratidão, enviavam parentes e amigos para pedir ajuda, por causa da estima que tinham por ele. As autoridades civis muitas vezes tinham pessoas incapacitadas para cuidar e recorriam a Zatti. Os prisioneiros e outras pessoas, ao vê-lo em boas relações com as autoridades, recomendavam que ele pedisse clemência para eles ou resolvesse seus problemas.
Um fato que expressa bem o poder de autoridade de Zatti para impactar a vida das pessoas com seu testemunho evangélico e sua palavra persuasiva é a conversão de Lautaro Montalva. Ele, chamado de chileno por seu país de origem, era um revolucionário, explorado pelos agitadores políticos habituais. Difundia revistas antirreligiosas. Finalmente, abandonado por todos, caiu na pobreza e chegou ao fim da vida, com uma família numerosa. Somente Zatti teve a coragem de entrar em seu casebre de madeira, resistir à sua primeira reação de rebeldia e conquistá-lo com sua caridade. O revolucionário se amansou e pediu para ser batizado: seus filhos também foram batizados. Zatti o internou no hospital. Pouco antes de sua morte, ele pediu ao pároco: “Dê-me os sacramentos que um cristão deve receber!” A conversão de Montalva foi uma conquista da caridade e da coragem cristã de Zatti.
Zatti faz da missão a serviço dos doentes o seu espaço educativo, onde encarna cotidianamente o Sistema Preventivo de Dom Bosco – razão, religião, amorosidade – na proximidade e na assistência aos necessitados, ajudando-os a compreender e a aceitar as situações dolorosas da vida, no testemunho vivo da presença do Senhor.

Zatti enfermeiro
O perfil profissional de Artêmides Zatti, que começou com uma promessa, estava enraizado na confiança na Providência e se desenvolveu quando ele se recuperou de sua doença. A frase “Acreditei, Prometi, Sarei”, lema de sua canonização, mostra a dedicação total que Zatti tinha por seus irmãos e irmãs doentes, pobres e necessitados.
Esse compromisso ele manteve diariamente até sua morte no hospital São José, fundado pelos primeiros salesianos que chegaram à Patagônia, e o reiterou em cada visita domiciliar, urgente ou não, que fazia aos doentes que precisavam dele.
Em sua bicicleta, no escritório de administração, na sala de cirurgia, no pátio durante o recreio com seus “parentes” pobres, nas enfermarias do hospital que visitava todos os dias, era sempre um enfermeiro; um santo enfermeiro dedicado a cuidar e aliviar, levando o melhor remédio: a presença alegre e otimista da empatia.

Uma pessoa e uma equipe que fazem o bem
Era a fé que impulsionava Artêmides Zatti a uma atividade incansável, mas razoável. Sua consagração religiosa o havia introduzido direta e completamente no cuidado dos pobres, dos doentes e daqueles que necessitavam da salvação misericordiosa e do consolo de Deus.
O Sr. Zatti trabalhou no mundo da saúde ao lado de médicos, enfermeiros, pessoal de saúde, Filhas de Maria Auxiliadora e de muitas pessoas que colaboraram com ele no apoio ao hospital São José, o primeiro da Patagônia argentina, em Viedma, na primeira metade do século XX.
A tuberculose que contraiu aos 20 anos de idade não foi um obstáculo para perseverar em sua escolha profissional. Ele encontrou na figura do salesiano coadjutor o estilo de compromisso para trabalhar diretamente com os pobres. Sua consagração religiosa, vivida em sua profissão de enfermeiro, foi a combinação de sua vida dedicada a Deus e a seus irmãos. Naturalmente, isso se manifestou em uma personalidade peculiar, única e irrepetível. Artêmides Zatti era uma pessoa boa, que trabalhava diretamente com os pobres, fazendo o bem.

O contato direto com os pobres tinha como objetivo a saúde, ou seja, aliviar a dor, suportar o sofrimento, acompanhar os últimos momentos de suas vidas, oferecer um sorriso diante do irreversível, dar uma mão com esperança. Por esse motivo, Zatti se tornou uma “presença-remédio”: ele curava diretamente com sua presença agradável.
Seu principal biógrafo, o salesiano Raul Entraigas, fez uma descoberta original. Ele identificou a síntese da vida de Artêmides Zatti na frase de um morador do lugar: ele parece ser “o parente de todos os pobres”. Zatti via o próprio Jesus nos órfãos, nos doentes e nos indígenas. E ele os tratava com tanta proximidade, apreço e amor, que parecia que todos eram seus parentes.

Formação para ajudar
Vendo as necessidades da cidadezinha, Zatti aperfeiçoou sua profissão. Gradualmente, ele se tornou diretor do hospital, estudou e validou seu conhecimento com o Estado quando lhe foi solicitado. Os médicos que trabalharam com Artêmides, como o Dr. Molinari e o Dr. Sussini, testemunham que Zatti possuía um grande conhecimento médico, resultado não apenas de sua experiência, mas também de seus estudos.
O P. De Roia acrescenta: “Quanto à sua formação cultural e profissional, lembro-me de ter visto livros e publicações sobre medicina e, perguntando-lhe uma vez quando os lia, ele me disse que o fazia à noite ou durante o descanso dos pacientes à tarde, logo que terminava todas as suas tarefas no hospital”.
A esse respeito, há um documento, “Credenciais Profissionais”, emitido pela Secretaria de Saúde Pública da Nação Argentina com o número de registro profissional 07253. Trata-se de seus estudos na Universidade Nacional de La Plata em 1948, aos 67 anos de idade. A isso se soma uma certificação anterior, em 1917, como “Idôneo” em Farmácia.
Seu estilo de vida o levou a um compromisso no qual ele se encontrava diretamente com os pobres, os doentes e os mais necessitados. É por isso que a profissão de enfermeiro tinha um valor agregado: sua presença era um testemunho da bondade de Deus. Essa maneira simples de ver a realidade pode ajudar a entender melhor a vida de Zatti, prestando atenção especial ao termo “diretamente”.
Nessa perspectiva, encontramos o que há de mais genuíno em Zatti, que enfatiza o que é chamado de “vida religiosa” ou “consagração”. É por isso que Artêmides é um salesiano santo. Ele é um enfermeiro santo. Esse é o legado que ele deixou para todos. E este é o desafio que ele lança a todos e os convida a aceitar.

1908
Depois de recuperar a saúde, Zatti entrou para a Congregação Salesiana como coadjutor. Ele começou a trabalhar na farmácia do hospital São José, o único em Viedma.
1911
Após a morte do P. Evásio Garrone, diretor do hospital, Zatti permaneceu no comando da farmácia e do hospital, o primeiro da Patagônia. Ele trabalhou lá por quarenta anos.
1917
Ele obteve o título de “Idôneo em Farmácia” pela Universidade de La Plata.
1941
O prédio do hospital é demolido. Os pacientes e profissionais se mudam com Zatti para a escola agrícola “Santo Isidoro”.
1948
Zatti obteve seu registro como enfermeiro na Universidade de La Plata.

Zatti com os médicos: ele era pai!
Entre os principais colaboradores de Zatti no Hospital São José estavam os médicos. As relações eram delicadas, pois um dos médicos era o diretor do hospital do ponto de vista jurídico e tinha responsabilidade profissional pelos pacientes. Zatti tinha responsabilidade organizacional e de enfermagem, e podiam surgir desentendimentos. Depois dos primeiros anos, vários médicos vieram para Viedma, a capital de Rio Negro, e Patagones; e Zatti teve de usar suas especializações no hospital sem despertar rivalidade. Agiu de forma a conquistar a estima de todos por sua bondade e competência. Na documentação, encontramos os nomes dos diretores Dr. Ricardo Spurr e Dr. Francisco Pietrafraccia; depois, Antônio Gumercindo Sussini, Ferdinando Molinari, Pedro Echay, Pasqual Atílio Guidi e João Cadorna Guidi, que testemunharão a santidade de Zatti; e, finalmente, Harosteguy, Quaranta e Cessi. Certamente havia outros, mais de passagem, porque, após um período de aprendizado, os médicos aspiravam a locais mais centrais e desenvolvidos. É unanimemente reconhecido que Zatti, como enfermeiro, era submisso às instruções e regras dos médicos: ele tinha grande prestígio junto a todos por causa de sua bondade e não suscitava reclamações sobre os cuidados que dava aos pacientes doentes em sua casa. O Dr. Sussini, que o acompanhou até a morte, declarou: “Todos os médicos, sem exceção, demonstravam-lhe afeto e respeito por suas virtudes pessoais, sua bondade, sua misericórdia e sua fé pura, sincera e desinteressada”[i] .
O Dr. Pasqual Atílio Guidi especificou: “Ele sempre foi correto, seguia as instruções dos médicos. Lembro-me de que o Dr. Harosteguy, que era bastante «contestador», nervoso, quando eu estava presente durante uma operação, às vezes culpava o Sr. Zatti por seus problemas; mas, no final da operação, ele lhe dava um tapinha nas costas e pedia desculpas. Dessa forma, entendíamos que não havia tanta mágoa contra Zatti. Zatti era uma pessoa respeitada por todos”[ii] . A filha do Dr. Harosteguy e o Dr. Echay confirmam o caráter forte de Harosteguy e as explosões injustificadas contra Zatti, que o conquistou com sua tolerância. De fato, foi justamente o Dr. Harosteguy, quando adoeceu, que só permitiu que Zatti o visitasse, apreciando sua presença e proximidade.
O Dr. Molinari testemunhou: “O Sr. Zatti respeitava o corpo médico e seguia rigorosamente suas instruções. Mas, devido ao grande número de pacientes que exigiam exclusivamente sua intervenção, ele teve que agir muitas vezes espontaneamente, mas sempre com base em seu grande conhecimento, sua experiência e de acordo com seu próprio conhecimento médico. Ele nunca se atreveu a uma cirurgia difícil. Ele sempre chamava o médico. Nós, médicos, tínhamos carinho, respeito e admiração pelo Sr. Zatti. Esse sentimento era geral […] eu diria que os pacientes «adoravam» o Sr. Zatti e tinham uma confiança cega nele”[iii] .
O Dr. Echay faz esta observação singular: “Com toda a equipe do hospital, Zatti era um pai; mesmo conosco, médicos mais jovens, ele era um bom conselheiro”[iv] . Com relação às visitas que Zatti fazia à cidade, o Dr. Guidi diz: “Os médicos nunca viram esse trabalho de Zatti de forma negativa, mas como uma colaboração. […]. Os pacientes que ele atendia ergueriam um monumento a ele”[v] .
Mesmo as pessoas de fora sempre viram relações estreitas de colaboração e estima entre Zatti e os médicos, como testemunha o Padre López: “O comportamento do Sr. Zatti com os médicos era considerado por eles como cordial. Todos os médicos com quem conversei eram, sem exceção, seus admiradores”[vi] . E o próprio Padre López: “Sempre houve a reputação da amabilidade de Zatti para com os médicos, sua tolerância e humanidade diante da rudeza típica de muitos médicos; em particular, o Dr. Harosteguy era um homem violento e a virtude de Zatti para com ele pode ser deduzida porque ele se tornou um admirador de Zatti, com tons de veneração”[vii] . Oscar Garcia usa uma expressão significativa: “Os médicos colaboravam com o hospital em boa parte porque o Sr. Zatti estava lá com uma caridade que comovia os corações”[viii] . Sua vida abalou a indiferença religiosa de alguns deles: “Quando vejo Zatti, minha descrença vacila”[ix] . Em não poucos casos, houve conversões e início de vida cristã.

Zatti e as enfermeiras: ele era tudo para nós!
O maior grupo que prestava serviços ao hospital era a equipe feminina. O São José tinha até 70 leitos em alguns momentos, e é natural que fossem necessárias enfermeiras treinadas profissionalmente, ajudantes de cozinha, lavadeiras e engomadeiras, faxineiras e outros funcionários. Para as ocupações mais humildes e comuns, não era difícil encontrar pessoal, porque a população tinha muitos elementos pobres e um estágio no hospital parecia particularmente desejável e seguro. Mais difícil foi encontrar as enfermeiras para as quais, talvez em todo o país e certamente na Patagônia, não havia escolas de preparação. Zatti teve que prover sozinho: escolher, treinar, organizar, auxiliar as enfermeiras, obter os meios de trabalho, pensar no pagamento, a tal ponto que ele foi o iniciador no treinamento da equipe feminina do hospital.
A Providência trouxe para o hospital várias jovens boas, mas pobres, que depois de serem assistidas e curadas estavam procurando um lugar na vida. Zatti se deu conta da bondade e da disponibilidade delas; mostrou, com seu exemplo e sua palavra, como era belo servir ao Senhor nos irmãos e irmãs doentes; e então fez a discreta proposta de ficarem com ele e compartilharem a missão no hospital. As melhores moças sentiram a grandeza e a alegria desse ideal e ficaram no São José. Zatti assumiu a responsabilidade de prepará-las profissionalmente e, como bom religioso, cuidou de sua formação espiritual. Assim, elas passaram a constituir-se como grupo numa espécie de congregação sem votos, de almas escolhidas que optaram por servir aos pobres. Zatti lhes dava tudo o que precisavam para a vida, mesmo que normalmente não lhes pagasse, e pensava em uma boa acomodação caso quisessem deixar o serviço hospitalar. Não devemos pensar que a situação naquela época exigia todas as garantias que as instalações hospitalares exigem hoje. Para essas moças, a solução oferecida por Zatti, do ponto de vista material, era invejável, tanto quanto do ponto de vista espiritual. De fato, elas eram felizes e quando o Hospital São José foi fechado, ou antes, não foi difícil para nenhuma delas encontrar uma boa acomodação. Em conjunto elas sempre expressaram sua gratidão.
O padre Entraigas recorda 13 nomes de funcionárias que trabalharam no hospital em diferentes épocas. Entre os documentos estão os relatórios das enfermeiras: Noélia Morero, Teodolinda Acosta, Felisa Botte, Andrea Rafaela Morales, Maria Danielis. Noelia Morero conta sua história, que foi idêntica à de várias outras enfermeiras. Ela chegou doente ao São José: “Aqui eu estive doente e depois comecei a trabalhar até o final de 1944, quando me mudei para o Hospital Nacional Regional em Viedma, que foi inaugurado em 1945 […]. Zatti era muito amado e respeitado por todos os funcionários e pacientes; ele era o “lenço de lágrimas” de todos. Não me lembro de nenhum tipo de reclamação contra ele. Quando Zatti entrava nos quartos, parecia que “o próprio Deus!” estava entrando. Eu não saberia como dizer isso. Para nós, ele era tudo. Eu não tive nenhuma dificuldade especial; como doente, nunca me faltou nada: nem comida, nem remédios, nem roupas. O Sr. Zatti se preocupava especialmente com a formação moral da equipe. Lembro-me de que ele nos fazia aprender com aulas práticas, acompanhando-o quando visitava os doentes e, depois de uma ou duas vezes, ele nos mandava fazer o mesmo especialmente nos casos mais graves”[x] .

Filme visto antes da conferência



Vídeo da conferência: Zatti, o Bom Samaritano, para os doentes, médicos e enfermeiros
Palestra proferida pelo Pe. Pierluigi CAMERONI, Postulador Geral da Sociedade Salesiana São João Bosco de Valdocco, em 15.11.2023.


[i] Depoimento do Dr. Antônio Gumercindo Sussini. Positio – Summarium, p. 139, § 561.

[ii] Depoimento de Atílio Guidi, farmacêutico. Ele conheceu Zatti de 1926 a 1951. Positio – Summarium, p. 99, § 386.

[iii] Depoimento do Dr. Ferdinando Molinari. Ele conheceu Zatti de 1942 a 1951. Tornou-se médico no Hospital São José e o tratou durante sua última doença. Ele fez o discurso oficial na inauguração do monumento a Zatti. Positio – Summarium, p. 147, § 600.

[iv] Depoimento do Dr. Pedro Echay. Positio – Informatio, p. 108.

[v] Depoimento de Atílio Guidi. Positio – Summarium, p. 100, § 391.

[vi] Testemunho do Padre Feliciano López. Positio – Summarium, p. 171, § 694.

[vii] Ibid., p. 166, § 676.

[viii] Depoimento de Oscar García, funcionário da polícia. Ele conheceu Zatti em 1925, mas lidou com ele principalmente depois de 1935, tanto como líder de ex-alunos quanto como membro do Círculo Operário. Positio – Summarium, p. 111, § 440.

[ix] Depoimento do Padre Feliciano López. Positio – Summarium, p. 181, § 737.

[x] Depoimento de Noélia Morero, enfermeira. Positio – Informatio, p. 112.

P. Pierluigi CAMERONI
Salesiano de Dom Bosco, especialista em hagiografia, autor de vários livros salesianos. Ele é o Postulador Geral da Sociedade Salesiana de São João Bosco.