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            Para a educação de seus jovens, Dom Bosco fazia grande uso da música. Desde menino, ele gostava de cantar. Como tinha uma bela voz, o Sr. João Roberto, chefe dos cantores da paróquia, ensinou-lhe a cantar. Em poucos meses, João pôde fazer parte da cantoria e executar peças musicais com excelentes resultados. Ao mesmo tempo, começou a aprender a espineta, que era um instrumento de cordas dedilhadas com teclado, e também o violino (cf. MBp I, 190).
            Sacerdote em Turim, atuou como professor de música para seus primeiros oratorianos, formando gradualmente verdadeiros corais que atraíam a simpatia dos ouvintes com seus cantos.
            Após a abertura do internato, ele iniciou uma escola de canto gregoriano e, com o tempo, também levou seus jovens cantores a igrejas da cidade e fora de Turim para apresentar seu repertório.
            Ele mesmo compôs cânticos sacros, como aquele para o Menino Jesus, “Ah, se cante em som do júbilo…”. Ele também encaminhou alguns de seus discípulos ao estudo da música, entre eles o P. João Cagliero, que mais tarde se tornou famoso por suas criações musicais, conquistando a estima dos especialistas. Em 1855, Dom Bosco organizou a primeira banda instrumental no Oratório.
            No entanto, Dom Bosco não agia impensadamente! Já na década de 1860, ele incluiu num Regulamento um capítulo sobre escolas noturnas de música, no qual dizia, entre outras coisas:
“De cada aluno de música se exige a promessa formal de não ir cantar ou tocar nos teatros públicos, nem em outras diversões em que se possam comprometer a religião e os bons costumes” (MBp VII, 888).

A Música dos meninos
            A um religioso francês que havia fundado um Oratório festivo e que lhe perguntou se era apropriado ensinar música aos meninos, ele respondeu: “Um Oratório sem música é um corpo sem alma!”(MBp V, 300).
            Dom Bosco falava francês bastante bem, embora com certa liberdade gramatical e de expressão. Nesse sentido, uma de suas respostas sobre a música dos meninos ficou famosa. O P. Mendre, vigário paroquial de São José em Marselha, lhe dedicava grande afeto. Um dia, estava sentado ao seu lado durante uma academia no Oratório de São Leão. Os pequenos músicos de vez em quando desafinavam. O Padre, que era bom conhecedor da música, se irritava e reclamava de cada desafinada. Dom Bosco sussurrou-lhe ao ouvido, com o seu francês: “Monsieur Mendre, la musique de les enfants elle s’écoute avec le coeur et non avec les oreilles” (Senhor P. Mendre, a música dos jovens deve ser ouvida com o coração e não com os ouvidos). Mais tarde, o padre recordou essa resposta inúmeras vezes, revelando a sabedoria e a bondade de Dom Bosco (cf. MBp XV, 76, n.2).
            Tudo isso não significa, porém, que Dom Bosco colocava a música acima da disciplina no Oratório. Ele era sempre amável, mas não ignorava facilmente as faltas de obediência. Durante alguns anos, ele permitiu que os jovens membros da banda saíssem para passear e almoçar no campo na festa de Santa Cecília. Mas em 1859, devido a incidentes, ele começou a proibir esse tipo de entretenimento. Os jovens não protestaram abertamente, mas metade deles, incitados por um líder que lhes havia prometido obter permissão de Dom Bosco, e esperando impunidade, decidiu deixar o Oratório de qualquer maneira e organizar um almoço por conta própria antes da festa de Santa Cecília. Eles tomaram essa decisão pensando que Dom Bosco não perceberia e não tomaria providências. Assim, nos últimos dias de outubro, foram almoçar em um restaurante próximo. Depois do almoço, voltaram a passear pela cidade e, à noite, jantaram no mesmo lugar, retornando a Valdocco meio bêbados, já tarde da noite. Somente o Sr. Buzzetti, convidado no último momento, recusou-se a se juntar àqueles desobedientes e advertiu Dom Bosco. Este, calmamente, declarou a banda dissolvida e ordenou a Buzzetti que recolhesse e trancasse todos os instrumentos e pensasse em novos alunos para iniciar a música instrumental. Na manhã seguinte, ele mandou chamar todos os músicos indisciplinados, um por um, lamentando a cada um deles o fato de o terem forçado a ser muito rigoroso. Em seguida, mandou-os de volta para seus parentes ou responsáveis, recomendando alguns mais necessitados para as oficinas da cidade. Apenas um desses meninos travessos foi aceito mais tarde, porque o P. Rua assegurou a Dom Bosco que ele era um menino inexperiente que se deixara enganar por seus companheiros. E Dom Bosco o manteve sob vigilância por algum tempo!
            Mas com as tristezas não se deve esquecer as consolações. O dia 9 de junho de 1868 foi uma data memorável na vida de Dom Bosco e na história da Congregação. A nova Igreja de Maria Auxiliadora, que ele havia construído com imensos sacrifícios, foi finalmente consagrada. Aqueles que estavam presentes nas celebrações solenes ficaram profundamente comovidos. Uma multidão transbordante lotou a bela igreja de Dom Bosco. O arcebispo de Turim, Dom Riccardi, realizou o rito solene da consagração. No ofício da tarde do dia seguinte, durante as Vésperas solenes, o coral de Valdocco entoou a grande antífona musicada pelo P. Cagliero: Sancta Maria succurre miseris [Santa Maria, socorrei os pobres]. A multidão de fiéis ficou emocionada. Três poderosos corais a executaram com perfeição. Cento e cinquenta tenores e baixos cantavam na nave perto do altar de São José, duzentos sopranos e contraltos estavam no alto, ao longo da grade sob a cúpula, e um terceiro coro, formado por outros cem tenores e baixos, estava na orquestra que dava vista para os fundos da igreja. Os três corais, conectados por um dispositivo elétrico, mantinham a sincronia ao comando do maestro. O biógrafo, presente na apresentação, escreveu mais tarde:
            “No instante em que todos os corais se uniam numa única harmonia, sentiu-se uma espécie de encanto. As vozes se juntaram, e o eco as levava em todas as direções, assim que o ouvinte se sentia como que imergido num mar de vozes, que o circundavam sem poder distinguir como e de onde vinham”. As exclamações que se ouviam então indicavam como todos se sentiam subjugados por tão grande maestria. O próprio Dom Bosco não conseguia conter sua intensa emoção. E ele, que nunca na igreja, durante a oração, se permitia dizer uma palavra, voltou os olhos úmidos de lágrimas para um cônego amigo seu e em voz baixa lhe disse: “Caro Anfossi, não lhe parece estar no Paraíso?” (MBp IX, 296).

P. Natale CERRATO
Salesiano de Dom Bosco, missionário na China de 1948 a 1975, estudioso de Dom Bosco e da salesianidade, escreveu obras e artigos, realizando um trabalho valioso na divulgação da vida e das obras do Santo da Juventude. Faleceu em 2019.