Esta novena a Maria Auxiliadora 2025 nos convida a nos redescobrirmos filhos sob o olhar materno de Maria. A cada dia, através das grandes aparições – de Lourdes a Fátima, de Guadalupe a Banneux – contemplamos um traço do seu amor: humildade, esperança, obediência, assombro, confiança, consolação, justiça, doçura, sonho. As meditações do Reitor-Mor e as orações dos “filhos” nos acompanham em um caminho de nove dias que abre o coração à fé simples dos pequenos, alimenta a oração e encoraja a construir, com Maria, um mundo curado e cheio de luz, para nós e para todos aqueles que buscam esperança e paz.
1º Dia
Ser Filhos – Humildade e fé
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa Senhora de Lurdes
A pequena Bernadette Soubirous
11 de fevereiro de 1858. Eu acabara de completar 14 anos. Era uma manhã como qualquer outra, um dia de inverno. Estávamos com fome, como sempre. Havia uma caverna, com uma entrada escura. No silêncio, senti uma grande brisa. O arbusto moveu-se, foi sacudido por uma grande força. Vi, então, uma jovem mulher, branca, não mais alta do que eu, que me cumprimentou com uma leve inclinação da cabeça; ao mesmo tempo, afastou um pouco do corpo os braços estendidos, abrindo as mãos, como as estátuas de Nossa Senhora; fiquei com medo. Então, ocorreu-me rezar: peguei o terço que sempre levo comigo e comecei a rezar o rosário.
Maria mostra-se a sua filha Bernadette Soubirous. A ela, que não sabia ler nem escrever, que falava dialeto e não frequentava o catecismo. Uma menina pobre, alvo de bullying de todos na aldeia, no entanto mesmo assim pronta a confiar e entregar-se, como quem não tem nada. E nada a perder. Maria confia-lhe os seus segredos, e o faz porque confia nela. Trata-a com ternura, dirige-se a ela com gentileza, diz-lhe “por favor”. E Bernadette se abandona e acredita nela, exatamente como uma criança faz com a própria mãe. Acredita na promessa que Nossa Senhora lhe faz: de não a fazer feliz neste mundo, mas no outro. E ela se lembra dessa promessa por toda a vida. Uma promessa que lhe permitirá enfrentar todas as dificuldades de cabeça erguida, com força e determinação, fazendo o que Nossa Senhora lhe pediu: rezar, rezar sempre por todos nós, pecadores. Ela também promete: guarda os segredos de Maria e dá voz ao seu pedido de um Santuário no local da aparição. E, no momento da morte, Bernadette sorri, recordando o rosto de Maria, seu olhar terno, seus silêncios, suas poucas, mas intensas palavras e, sobretudo, aquela promessa. E se sente filha, filha de uma Mãe que cumpre as suas promessas.
Maria, Mãe que promete
Tu, que prometeste ser mãe da humanidade, ficaste ao lado dos teus filhos, a começar pelos pequenos e mais pobres. A eles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Tem fé: Maria se mostra também a nós se soubermos despojar-nos de tudo.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, humildade e fé
Podemos dizer que a Bem-Aventurada Virgem Maria é para nós um farol de humildade e de fé que acompanha o nosso tempo, acompanha a nossa vida, acompanha a experiência de todos e de cada um de nós. Não esqueçamos, porém, que a humildade de Maria não é, antes de qualquer coisa, uma simples modéstia exterior, não é uma fachada, mas sim uma profunda consciência da sua pequenez diante da grandeza de Deus.
O seu “sim, eis aqui a serva do Senhor”, que ela pronunciou diante do anjo, é um ato de humildade, não de presunção; é um abandono confiante de quem se reconhece instrumento nas mãos de Deus. Maria não busca reconhecimento, Maria busca simplesmente ser serva, colocando-se silenciosamente em último lugar, com humildade, com simplicidade que nos desarma. Esta humildade, uma humildade radical, é a chave que abriu o coração de Maria à Graça Divina, permitindo que o Verbo de Deus, com a sua grandeza, com a sua imensidão, se encarnasse no seu seio humano.
Eis que Maria nos ensina a sermos como somos, com a nossa humildade, sem orgulho, sem depender da nossa autoridade, da nossa autorreferência, colocando-nos livremente diante de Deus para que possamos colher com plena liberdade e disponibilidade, como o fez Maria, o amor divino e viver a Sua vontade. Eis o segundo ponto, eis a fé de Maria. A humildade de serva a coloca em um caminho constante de adesão incondicional ao projeto de Deus, mesmo nos momentos mais obscuros e incompreensíveis, o que significa enfrentar com coragem a pobreza da sua experiência na gruta de Belém, a fuga para o Egito, a vida escondida em Nazaré, mas sobretudo aos pés da cruz, onde a fé de Maria atinge o seu ápice.
Sob a cruz, com um coração trespassado pela dor, Maria não vacila, Maria não cai, Maria crê na promessa. Sua fé não é um sentimento passageiro, mas uma rocha sólida sobre a qual se fundamenta a esperança da humanidade, a nossa esperança. A humildade e a fé em Maria estão intrinsicamente ligadas.
Deixemos que esta humildade de Maria ilumine a nossa humanidade para que também a fé possa brotar em nós, para que, reconhecendo a nossa pequenez diante de Deus, não nos sintamos abandonados por sermos pequenos, não nos deixemos vencer pelas presunções, mas nos coloquemos ali, como Maria, com uma atitude de grande liberdade, com uma atitude de grande disponibilidade, reconhecendo a nossa dependência de Deus, vivamos com Deus na simplicidade, mas ao mesmo tempo na grandeza. Assim, Maria nos exorta a cultivar uma fé serena e firme, capaz de superar as provações e confiar na promessa de Deus. Contemplemos a figura de Maria, humilde e fiel, para que também nós possamos dizer generosamente o nosso “sim”, como ela o fez.
E nós, somos capazes de acolher as suas promessas de amor com o olhar de uma criança?
Oração de um filho infiel
Maria, tu que te revelas a quem sabe ver…
torna puro o meu coração.
Torna-me humilde, pequeno, capaz de perder-me no teu abraço de mãe.
Ajuda-me a redescobrir a importância do papel de filho e guia os meus passos.
Tu prometes, eu prometo, num pacto que só mãe e filho podem fazer.
Eu cairei, mãe, tu o sabes.
Nem sempre cumprirei as minhas promessas.
Nem sempre confiarei.
Nem sempre conseguirei te ver.
Mas tu, permanece presente, em silêncio, com o teu sorriso, os braços estendidos e as mãos abertas.
E eu pegarei o terço e rezarei contigo por todos os filhos como eu.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
2º Dia
Ser Filhos – Simplicidade e esperança
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa Senhora de Fátima
Os pequenos pastorinhos na Cova da Iria
Na Cova da Iria, por volta das 13h, o céu se abre e o sol aparece. De repente, por volta das 13h30, acontece o improvável: diante de uma multidão admirada, ocorre o milagre mais espetacular, grandioso e incrível já visto desde os tempos bíblicos. O sol inicia uma dança frenética e assustadora que durará mais de dez minutos. Um tempo longuíssimo.
Três pastorinhos, humildes e felizes, testemunham e espalham o milagre que abala milhões de pessoas. Ninguém consegue explicar, dos cientistas aos homens de fé. No entanto, três crianças viram Maria, ouviram a sua mensagem. E acreditam, acreditam nas palavras daquela mulher que apareceu e pediu-lhes para voltarem à Cova da Iria todo dia 13 do mês. Não precisam de explicações, pois depositam toda a sua esperança nas palavras repetidas de Maria. Uma esperança difícil de manter viva, que teria assustado qualquer criança: Nossa Senhora revela a Lúcia, Jacinta e Francisco sofrimentos e conflitos mundiais. Mas eles não têm dúvidas: quem confia na proteção de Maria, mãe protetora, pode enfrentar tudo. E sabem disso muito bem, sentiram na própria pele ao arriscar serem mortos para não trair a palavra dada à mãe celeste. Os três pastorinhos estavam prontos para o martírio, presos e ameaçados diante de um caldeirão de óleo fervente.
Tinham medo:
«Por que temos que morrer sem abraçar os nossos pais? Eu queria tanto ver a minha mãe».
Mesmo assim, decidiram continuar a ter esperança, a acreditar num amor maior do que eles:
«Não tenhais medo. Ofereçamos este sacrifício pela conversão dos pecadores. Pior seria se Nossa Senhora não voltasse mais».
«Por que não rezamos o Terço?».
Uma mãe jamais ignora o clamor dos filhos. E nela os filhos depositam esperança.
Maria, Mãe que protege, permaneceu ao lado dos seus três filhos de Fátima e os salvou, fazendo com que permanecessem vivos. E hoje ainda protege todos os seus filhos no mundo que peregrinam até o santuário de Nossa Senhora de Fátima.
Maria, Mãe que protege
Tu, que cuidas da humanidade desde o momento da Anunciação, continuas ao lado dos teus filhos mais humildes e cheios de esperança. Deles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Deposita a tua esperança em Maria: ela saberá proteger-te.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, esperança e renovação
A Bem-Aventurada Virgem Maria é a aurora da esperança, fonte inesgotável de renovação.
Contemplar a figura de Maria é como voltar o olhar para um horizonte luminoso, um convite constante a crer num futuro cheio de Graça. E esta Graça é transformadora. Maria é a personificação da esperança cristã em ação. A sua fé inabalável perante as provações, a sua perseverança em seguir Jesus até à cruz, a sua confiante expectativa da ressurreição são as coisas mais importantes. Para nós, são um farol de esperança para toda a humanidade.
Em Maria vemos como a certeza é, por assim dizer, a confirmação da promessa de um Deus que nunca falha em cumprir a sua palavra. Que a dor, o sofrimento, a escuridão não têm a última palavra. Que a morte é vencida pela vida.
Maria é a esperança! Ela é a estrela da manhã que anuncia a vinda do sol da justiça. Recorrer a Ela significa confiar as nossas expectativas, as nossas aspirações a um coração materno que as apresenta amorosamente ao seu Filho Ressuscitado. De alguma forma, a nossa esperança é sustentada pela esperança de Maria. E se há esperança, as coisas não permanecem como antes; há renovação! A renovação da vida. Ao acolher o Verbo encarnado, Maria tornou possível crer na esperança e na promessa de Deus. Ela tornou possível uma nova criação, um novo começo.
A maternidade espiritual de Maria continua a nos gerar na fé, acompanhando-nos no nosso caminho de crescimento e transformação interior.
Peçamos à Santíssima Maria a graça necessária para que esta esperança que vemos realizada nela renove os nossos corações, cure as nossas feridas, faça-nos ultrapassar o véu da negatividade para empreender um caminho de santidade, um caminho de proximidade com Deus. Peçamos a Maria, a mulher que está com os apóstolos na oração, que nos ajude hoje, fiéis e comunidades cristãs, para que sejamos sustentados na fé e abertos aos dons do Espírito, para que a face da terra seja renovada. Maria nos exorta a nunca nos resignarmos ao pecado e à mediocridade, mas, cheios de esperança nela realizada, desejamos ardentemente uma nova vida em Cristo. Que Maria continue sendo para nós modelo e apoio para continuarmos sempre a acreditar na possibilidade de um novo começo, de um renascimento interior que nos conforme cada vez mais à imagem de seu filho Jesus.
E nós, somos capazes de confiar nela e nos deixarmos proteger com os olhos de uma criança?
Oração de um filho desanimado
Maria, tu que te revelas a quem sabe ver…
torna o meu coração simples e cheio de esperança.
Eu confio em ti: protege-me em todas as situações.
Entrego-me a ti: protege-me em todas as situações.
Eu escuto a tua palavra: protege-me em toda as situações.
Dá-me a capacidade de crer no impossível e de fazer tudo o que está ao meu alcance
para levar o teu amor, a tua mensagem de esperança e a tua proteção ao mundo inteiro.
Peço-te, minha Mãe, protege toda a humanidade, mesmo aquela que ainda não te reconhece.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
3º Dia
Ser Filho – Obediência e dedicação
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa Senhora de Guadalupe
O jovem Juan Diego
«Juan Diego», disse a Senhora, «pequeno e preferido entre os meus filhos…». Juan ficou de pé num salto.
«Aonde vais, Juanito?», perguntou a Senhora.
Juan Diego respondeu com a maior educação possível. Disse à Senhora que ia à igreja de Santiago para assistir à Missa em honra à Mãe de Deus.
«Meu filho amado», disse a Senhora, «sou eu a Mãe de Deus, e quero que me escutes com atenção. Tenho uma mensagem muito importante para ti. Desejo que me construam uma igreja neste lugar, de onde poderei mostrar o meu amor ao teu povo».
Um diálogo doce, simples e terno, como o de uma mãe com seu filho. E Juan Diego obedeceu: foi até o bispo para relatar o que tinha visto, mas este não lhe deu crédito. Então, o jovem voltou até Maria e explicou-lhe o que tinha acontecido. Nossa Senhora deu-lhe outra mensagem e exortou-o a tentar novamente, de novo e de novo. Juan Diego obedecia, não se dava por vencido: cumpriria a tarefa que a Mãe celeste estava a confiar-lhe. Certo dia, porém, absorvido pelos problemas da vida, estava prestes a faltar ao encontro com Nossa Senhora: seu tio estava morrendo. «Acreditas mesmo que eu me esqueceria de quem amo tanto?» Maria curou o seu tio, enquanto Juan Diego obedecia mais uma vez:
«Meu amado filho», disse a Senhora, «sobe ao topo da colina onde nos encontramos pela primeira vez. Corta e colhe as rosas que lá encontrares. Coloque-as na tua tilma e traga-as até aqui. Eu lhe direi o que deves fazer e dizer». Mesmo sabendo que naquela colina não cresciam rosas, e certamente não no inverno, Juan correu até o topo. E lá estava o jardim mais lindo que já vira. Rosas de Castela, ainda brilhantes de orvalho, estendiam-se a perder de vista. Ele cortou delicadamente os botões mais bonitos com sua faca de pedra, encheu o seu manto com eles e voltou rapidamente até onde a Senhora o esperava. A Senhora pegou as rosas e as arrumou novamente na tilma de Juan. Depois, amarrou-a atrás do seu pescoço e disse: «Este é o sinal que o bispo quer. Rápido, vai até ele e não pares pelo caminho».
No manto aparecera a imagem de Nossa Senhora e, à vista de tal milagre, o bispo se convenceu. E hoje o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe ainda conserva o manto milagroso.
Maria, Mãe que não se esquece
Tu, que não esqueces nenhum dos teus filhos, não deixas ninguém para trás, olhaste para os jovens que depositaram em ti as suas esperanças. Deles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Obedece mesmo quando não compreendes: uma mãe não se esquece, uma mãe não abandona.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, maternidade e compaixão
A maternidade de Maria não se limita ao seu “sim” que tornou possível a encarnação do Filho de Deus. Certamente, aquele momento é o fundamento de tudo, mas a sua maternidade é uma atitude constante, um modo de ser para nós, de nos relacionarmos com toda a humanidade.
Na cruz, Jesus confia João a ela com as palavras: “Mulher, eis aí o teu filho”, estendendo simbolicamente a sua maternidade a todos os fiéis de todos os tempos.
Maria torna-se assim a mãe da Igreja, a mãe espiritual de cada um de nós.
Vejamos, então, como esta maternidade se manifesta num cuidado terno e atencioso, numa atenção constante às necessidades dos seus filhos e num profundo desejo pelo seu bem. Maria acolhe-nos, nutre-nos com a sua expressão de fidelidade, protege-nos sob o seu manto. A maternidade de Maria é um dom imenso que nos aproxima dela; sentimos sua presença amorosa que nos acompanha a cada momento.
Portanto, a compaixão de Maria é a consequência natural da sua maternidade. Compaixão que não é somente um sentimento superficial de piedade, mas uma profunda participação na dor dos outros, um “sofrer com”. Vemo-la manifestada de forma tocante durante a paixão de seu filho. E da mesma forma que Maria não permanece indiferente à nossa dor, ela intercede por nós, nos consola, nos oferece sua ajuda maternal.
O coração de Maria se torna um refúgio seguro onde podemos depositar nossas fadigas, encontrar conforto e esperança. Maternidade e compaixão em Maria tornam-se, por assim dizer, dois lados da mesma experiência humana em nosso favor, duas expressões de seu infinito amor a Deus e à humanidade.
Sua compaixão é a manifestação concreta de seu ser mãe, compaixão como consequência da maternidade. Contemplar Maria, então, como mãe, abre nossos corações à esperança de que nela encontramos uma experiência verdadeiramente completa. Mãe Celeste que nos ama.
Pedimos a Maria que nos faça vê-la como modelo de humanidade autêntica, de uma maternidade capaz de “sentir com”, capaz de amar, capaz de sofrer com os outros, seguindo o exemplo do seu filho Jesus, que sofreu e morreu na cruz por nosso amor.
E nós, temos certeza de que uma mãe não se esquece, com a mesma certeza das crianças?
Oração de um filho perdido
Maria, tu que te revelas a quem sabe ver…
torna o meu coração obediente.
Quando não te escuto, peço-te, insiste.
Quando não retorno, peço-te, vem buscar-me.
Quando não me perdoo, peço-te, ensina-me a indulgência.
Porque nós homens nos perdemos e nos perderemos sempre,
mas tu não te esqueças de nós, teus filhos errantes.
Vem buscar-nos, vem pegar-nos pela mão.
Não queremos e não podemos ficar sozinhos aqui.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
4º Dia
Ser Filhos – Admiração e reflexão
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa Senhora de la Salette
Os pequenos Melânia e Maximino de La Salette
Sábado, 19 de setembro de 1846, os dois pastorinhos subiram logo cedo as encostas do monte Planeau, acima do vilarejo de La Salette, cada um levando quatro vacas para pastar. No meio do caminho, perto de uma pequena fonte, Melânia foi a primeira a ver, sobre um monte de pedras, um globo de fogo «como se o sol tivesse caído ali» e mostrou-o a Maximino. Daquela esfera luminosa começou a surgir uma mulher, sentada com a cabeça entre as mãos, os cotovelos sobre os joelhos, profundamente triste. Diante do espanto deles, a Senhora levantou-se e, com uma doce voz, em francês, disse-lhes: «Aproximai-vos, meus filhos, não tenhais medo, estou aqui para anunciar-vos uma grande notícia». Encorajados, os meninos se aproximaram e viram que a figura estava chorando.
A mãe anuncia uma grande notícia aos seus filhos, e o faz chorando. Mesmo assim, os meninos não estranham o seu choro. Escutam no mais terno dos momentos entre mãe e filhos. Porque as mães também às vezes se preocupam, porque as mães também confiam aos filhos os seus sentimentos, pensamentos e reflexões. E Maria confia aos dois pastorinhos, pobres e carentes de afeto, uma grande mensagem: «Estou preocupada com a humanidade, estou preocupada convosco, meus filhos, que estais se afastando de Deus. E a vida longe de Deus é uma vida complicada, difícil, feita de sofrimentos». É por isso que ela chora. Chora como qualquer mãe que anuncia aos seus filhos menores e mais puros uma mensagem tão surpreendente quanto grandiosa. Uma mensagem a ser anunciada a todos, a ser levada ao mundo.
E eles o farão, porque não podem guardar para si um momento tão belo: a expressão do amor da mãe pelos seus filhos precisa ser anunciada a todos. O Santuário de Nossa Senhora de La Salette, que se ergue no local das aparições, fundamenta-se na revelação da dor de Maria diante do peregrinar de seus filhos pecadores.
Maria, Mãe que anuncia/que narra
Tu, que te entregas completamente aos teus filhos, a ponto de não ter medo de lhes contar sobre ti, tocaste o coração dos teus menores filhos, capazes de refletir sobre as tuas palavras e acolhê-las com assombro. Deles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Maravilha-te com as palavras de uma mãe: elas sempre serão as mais autênticas.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, amor e misericórdia
Sentimos estas duas dimensões de Maria? Maria é a mulher com um coração transbordante de amor, cuidado e misericórdia. Sentimo-la como um porto seguro, um refúgio seguro quando atravessamos momentos de dificuldade ou de provação.
Contemplar a imagem de Maria é como mergulhar num oceano de ternura, de compaixão. Sentimo-nos envolvidos por um ambiente, por uma atmosfera inesgotável de conforto e esperança. O amor de Maria é um amor materno que abraça toda a humanidade, porque é um amor que tem as suas raízes no seu “sim” incondicional ao desígnio de Deus.
Maria, ao acolher o seu Filho no seu ventre, acolheu o amor de Deus. Consequentemente, o seu amor não conhece fronteiras nem distinções, inclina-se sobre as fragilidades e misérias humanas, com infinita delicadeza. Vemos este amor manifestado na sua atenção a Isabel, na sua intercessão nas bodas de Caná, na sua presença silenciosa e extraordinária aos pés da cruz.
O amor de Maria, este amor materno, é um reflexo do próprio amor de Deus, um amor que se aproxima, que consola, que perdoa, que nunca se cansa, que nunca acaba. Maria nos ensina que amar significa entregar-se completamente, estar perto de quem sofre, compartilhar as alegrias e as tristezas dos nossos irmãos e irmãs com a mesma generosidade e a mesma dedicação que animavam o seu coração. Amor-misericórdia.
A misericórdia torna-se então a consequência natural do amor de Maria, uma compaixão, podemos dizer visceral, diante do sofrimento da humanidade, do mundo. Olhamos para Maria, contemplamo-la, encontramo-la com o seu olhar materno e sentimo-lo repousar sobre as nossas fraquezas, sobre os nossos pecados, sobre a nossa vulnerabilidade, sem agressividade, mas com infinita doçura. Ela tem um coração imaculado, sensível ao grito de dor.
Maria é uma mãe que não julga, não condena, mas acolhe, consola, perdoa. Sentimos a misericórdia de Maria como um bálsamo para as feridas da alma, um abraço que aquece o coração. Maria nos lembra que Deus é rico em misericórdia e que Ele nunca se cansa de perdoar aqueles que se voltam para Ele com um coração contrito, sereno, aberto e disponível.
O amor e a misericórdia em Maria Santíssima se fundem em um abraço que envolve toda a humanidade. Peçamos a Maria que nos ajude a abrir nossos corações ao amor de Deus, como ela fez, para que esse amor permeie nossos corações, especialmente quando nos sentimos mais necessitados, mais sob o peso das provações e das dificuldades. Em Maria, encontramos uma mãe muito terna e poderosa, pronta para nos acolher em seu amor e interceder por nossa salvação.
E nós, será que ainda conseguimos maravilhar-nos como uma criança diante do amor de mãe?
Oração de um filho distante
Maria, tu que te revelas a quem sabe ver…
torna o meu coração capaz de compaixão e conversão.
No silêncio, eu te reencontro.
Na oração, eu te escuto.
Na reflexão, eu te descubro.
E diante das tuas palavras de amor, Mãe, fico admirado
e descubro a força da tua ligação com a humanidade.
Longe de ti, quem me dá a mão nos momentos de dificuldade?
Longe de ti, quem me conforta no meu pranto?
Longe de ti, quem me aconselha quando estou pegando o caminho errado?
Eu retorno a ti, na unidade.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
5º Dia
Ser Filhos – Confiança e oração
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
A medalha de Catarina
A pequena Catarina Labouré
Na noite de 18 de julho de 1830, por volta das 23h30, ela ouviu chamarem o seu nome. Era um menino que lhe dizia: «Levanta-te e vem comigo». Catarina seguiu-o. Todas as luzes estavam acesas. A porta da capela abriu-se assim que o menino a tocou com a ponta dos dedos. Catarina ajoelhou-se.
À meia-noite, Nossa Senhora chegou, sentou-se na poltrona que havia ao lado do altar. «Então, pulei para perto dela, aos seus pés, nos degraus do altar, e coloquei minhas mãos sobre seus joelhos», contou Catarina. «Fiquei assim não sei por quanto tempo. Pareceu-me o momento mais doce da minha vida…».
«Deus quer confiar-lhe uma missão», disse a Virgem a Catarina.
Catarina, órfã aos 9 anos, não se conformava em viver sem a mãe. E aproxima-se da Mãe do Céu. Nossa Senhora, que a observava de longe, jamais a abandonaria. Pelo contrário, tinha grandes projetos para ela. Ela, uma filha atenta e amorosa, teria uma grande missão: viver uma vida cristã autêntica, uma relação pessoal forte e sólido com Deus. Maria acredita no potencial da sua filha e confia-lhe a Medalha Milagrosa, capaz de interceder e alcançar graças e milagres. Uma missão importante, uma mensagem difícil.
Contudo, Catarina não desanima, confia em sua Mãezinha do Céu e sabe que jamais será abandonará por ela.
Maria, Mãe que dá confiança
Tu, que confias nos teus filhos e lhes entregas missões e mensagens,
acompanha-os no seu caminho com uma presença discreta, permanecendo ao lado de todos, mas sobretudo daqueles que viveram grandes dores.
A eles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Confia: a mãe sempre te confiará apenas tarefas que conseguirás realizar e estará ao teu lado por todo o caminho.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, confiança e oração
A Bem-Aventurada Virgem Maria se apresenta a nós como uma mulher de uma confiança inabalável, uma poderosa intercessora através da oração. Contemplando esses dois aspectos, confiança e oração, vemos duas dimensões fundamentais do relacionamento de Maria com Deus.
Podemos dizer que a confiança de Maria em Deus é como um fio de ouro que percorre toda a sua existência, do começo ao fim. Aquele “sim” pronunciado com a consciência das consequências, é um ato de abandono total à vontade divina. Maria confia; Maria vive a confiança em Deus com um coração firme na Divina Providência, sabendo que Deus nunca a abandonaria.
Para nós, em nossa vida quotidiana, olhar para Maria, com uma atitude proativa, não passiva, e confiante, é um convite, não para esquecer nossas ansiedades e medos, para olhar tudo à luz do amor de Deus, que no caso de Maria nunca faltou e não falta em nossas vidas. Essa confiança leva à oração, que podemos dizer que é como o sopro da alma de Maria, é o canal privilegiado de sua comunhão íntima com Deus. A confiança leva à comunhão; Maria que se abandona em Deus é um diálogo contínuo de amor entre ela e o Pai; uma oferta constante de si mesma, de suas preocupações, mas também de suas decisões.
A visita de Maria à sua prima Isabel é um exemplo de oração que se faz serviço. Vemos Maria acompanhando Jesus até a cruz. Após a ascensão, a vemos no cenáculo junto aos apóstolos em uma expectativa/esperança fervorosa. Maria nos ensina o valor da oração constante como consequência da confiança total e completa, abandonando-se nas mãos de Deus … precisamente encontrar a Deus e viver com Deus.
Confiança e oração e Maria Santíssima estão intimamente interligadas. Uma profunda confiança em Deus que dá à luz, traz à tona uma oração perseverante. Peçamos a Maria que ela seja nosso exemplo de oração diária porque queremos nos sentir constantemente abandonados nas mãos misericordiosas de Deus.
Recorramos a ela com confiança filial para que, imitando-a, imitando sua confiança e perseverança na oração, possamos experimentar a paz que se sente somente quando nos abandonamos em Deus e possamos receber as graças necessárias para o nosso caminho de fé.
E nós, somos capazes de confiar de maneira incondicional como as crianças?
Oração de um filho desanimado
Maria, tu que te revelas a quem sabe ver…
torna o meu coração capaz de orar.
Não sou capaz de te escutar, abre os meus ouvidos.
Não sou capaz de te seguir, guia os meus passos.
Não sou capaz de ser fiel ao que me confiaste, fortalece a minha alma.
As tentações são muitas, faze que eu não ceda.
As dificuldades parecem insuperáveis, faze que eu não caia.
As contradições do mundo gritam alto, faze que eu não as siga.
Eu, teu filho arruinado, estou aqui para que te sirvas de mim,
fazendo de mim um filho obediente.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
6º Dia
Ser Filhos – Sofrimento e cura
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se deixa ver.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa Senhora das dores de Kibeho
A pequena Afonsina Mumiremana e o seus companheiros
A história começou às 12h35 de um sábado, 28 de novembro de 1981, em um colégio administrado por freiras locais, frequentado por pouco mais de cem meninas da região.
Um colégio rural, pobre, onde se aprendia a ser professora ou secretária.
O complexo não possuía Capela e, por isso, não havia um clima religioso particularmente intenso.
Naquele dia, todas as meninas do colégio estavam no refeitório.
A primeira do grupo a “ver” foi Afonsina Mumureke, de 16 anos.
Segundo o que ela mesma escreveu em seu diário, estava servindo suas colegas à mesa, quando ouviu uma voz feminina que a chamava: “Minha filha, vem aqui”.
Ela foi ao corredor, ao lado do refeitório, e ali apareceu-lhe uma mulher de beleza incomparável.
Estava vestida de branco, com um véu branco na cabeça que escondia os cabelos, e que parecia unido ao resto do vestido, que não tinha costuras.
Estava descalça e suas mãos estavam juntas sobre o peito, com os dedos voltados para o céu.
Posteriormente, Nossa Senhora apareceu a outros companheiros de Afonsina que, a princípio céticos, tiveram que mudar de opinião diante da aparição de Maria. Maria, falando com Afonsina, apresenta-se como a Senhora das Dores de Kibeho e conta aos jovens todos os acontecimentos cruéis e sangrentos que ocorreriam logo em seguida, com a eclosão da guerra em Ruanda. A dor será grande, mas também a consolação e a cura dessa dor, porque ela, a Senhora das Dores, nunca deixaria sozinhos os seus filhos da África. Os jovens ficam ali, atônitos, diante das visões, mas acreditam nesta mãe que lhes estende os braços, chamando-os de “meus filhos”. Sabem que somente nela haverá consolação. E a fim de rezar para que a mãe consoladora aliviasse os sofrimentos de seus filhos, foi erguido o santuário dedicado a Nossa Senhora das Dores de Kibeho, hoje um lugar marcado pelos extermínios e genocídios. E Nossa Senhora continua a estar ali e a abraçar todos os seus filhos.
Maria, Mãe que consola
Tu, que consolaste os teus filhos como João ao pé da cruz, dirigiste o olhar para aqueles que vivem no sofrimento. Deles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Não tenhas medo de passar pelo sofrimento: a mãe que consola enxugará as tuas lágrimas.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, sofrimento e convite à conversão
Maria é uma figura emblemática de sofrimento que se transforma em um poderoso convite à conversão. Quando contemplamos o seu caminho doloroso, é um alerta, silencioso e ao mesmo tempo eloquente, e um profundo apelo a rever um pouco a nossa vida, as nossas escolhas, e o chamado a retornar ao “coração” do Evangelho. O sofrimento atravessa a vida de Maria como uma espada afiada, profetizado pelo velho Simeão, marcado pelo desaparecimento do Menino Jesus e a dor indizível aos pés da cruz. Maria vive tudo isso, o peso da fragilidade humana e o mistério da dor inocente, de uma forma única.
O sofrimento de Maria não foi um sofrimento estéril, uma resignação passiva, mas de alguma forma percebemos que há uma ação frutuosa, uma oferta silenciosa e corajosa, unida ao sacrifício redentor do seu filho Jesus.
Quando olhamos para Maria, a mulher que sofre, com os olhos da nossa fé, esse sofrimento ao invés de nos deprimir, revela-nos a profundidade do amor de Deus por nós. Maria, de alguma forma, nos ensina que mesmo na dor mais aguda podemos encontrar um sentido, uma possibilidade de crescimento espiritual, que se dá com a união ao Mistério Pascal.
Da experiência da dor transfigurada, emerge um poderoso convite à conversão. Olhando e contemplando como Maria suportou o sofrimento por amor a nós e por nossa salvação, também nós somos chamados a não permanecermos indiferentes diante do mistério da redenção.
Maria, a mulher doce e materna nos impele a abandonar os caminhos do mal e abraçar o caminho da fé. A famosa frase de Maria nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” ainda ressoa para nós hoje como um convite urgente a ouvir a voz de Jesus nos momentos de dificuldade, nos momentos de provação, nos momentos de situações inesperadas e desconhecidas.
Percebemos facilmente que o sofrimento de Maria não é um fim em si mesmo, mas está intimamente ligado à redenção realizada por Cristo. Que o seu exemplo de fé inabalável, mesmo na dor, seja para nós luz e guia para transformar o nosso sofrimento em oportunidade de crescimento espiritual e responder com generosidade ao urgente chamado à conversão. Que pela intercessão de Maria, o chamado de Deus que ressoa no mais profundo do coração de cada ser humano possa encontrar sentido, vazão, crescimento, mesmo nos momentos mais difíceis e mais dolorosos.
E nós, deixamo-nos consolar como as crianças?
Oração de um filho que sofre
Maria, tu que te revelas a quem sabe ver…
torna o meu coração capaz de se curar.
Quando estou no chão, mãe, estende-me a mão.
Quando me sinto destruído, mãe, junta os pedaços.
Quando o sofrimento toma conta, mãe, abre-me à esperança.
Para que eu não busque apenas a cura do corpo, mas perceba o quanto o meu coração
precisa de paz.
E do pó levanta-me, mãe.
Levanta-me e todos os teus filhos que estão em provação.
Os que estão sob as bombas,
os perseguidos,
os injustamente encarcerados,
os feridos em seus direitos e dignidade,
aqueles cujas vidas são ceifadas cedo demais.
Levanta-os e consola-os
porque são teus filhos. Porque somos teus filhos.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
7º Dia
Ser Filhos – Justiça e dignidade
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa Senhora Aparecida
Os pequenos pescadores Domingos, Filipe e João
Ao amanhecer de 12 de outubro de 1717, Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves empurraram o barco às águas do rio Paraíba que corria perto da sua aldeia. Não pareciam ter sorte naquela manhã: lançaram as redes por horas, sem nada pescar. Tinham quase decidido desistir, quando João Alves, o mais jovem, quis fazer uma última tentativa. Lançou então a rede nas águas do rio e puxou-a lentamente. Havia algo, mas não era um peixe… parecia mais um pedaço de madeira. Quando o libertou das malhas da rede, o pedaço de madeira revelou-se como uma estátua da Virgem Maria, infelizmente sem a cabeça. João lançou novamente a rede na água e desta vez, ao puxá-la, encontrou preso outro pedaço de madeira de forma arredondada que parecia ser a cabeça da mesma estátua: tentou juntar as duas peças e percebeu que se encaixavam perfeitamente. Como obedecendo a um impulso, João Alves lançou novamente a rede na água e, quando tentou puxá-la, viu que não conseguia, porque estava cheia de peixes. Os seus companheiros também lançaram as redes na água e a pesca daquele dia foi verdadeiramente abundante.
A mãe vê as necessidades dos filhos; Maria viu as necessidades dos três pescadores e foi em socorro deles. Os filhos deram-lhe todo o amor e a dignidade que se pode dar a uma mãe: juntaram os dois pedaços da estátua, colocaram-na numa cabana e fizeram dela um santuário. Do alto da cabana, Nossa Senhora Aparecida – que quer dizer aquela que apareceu – salvou um filho seu, um escravo que fugia dos patrões: viu o seu sofrimento e devolveu-lhe a dignidade. E hoje, aquela cabana é o maior santuário mariano do mundo e traz o nome de Basílica de Nossa Senhora Aparecida.
Maria, Mãe que vê
Tu, que viste o sofrimento dos teus filhos maltratados, a começar pelos discípulos, te colocaste ao lado dos teus filhos mais pobres e perseguidos. Foi deles que te aproximaste, foi a eles que te manifestaste.
Não te escondas do olhar da mãe: ela enxerga até os teus desejos e necessidades mais secretos.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, dignidade e justiça social
A Bem-Aventurada Virgem Maria é um espelho da dignidade humana plenamente realizada, silenciosa, mas poderosa e inspiradora para um correto sentido da experiência social. Refletir sobre a figura de Maria em relação a esses temas revela uma perspectiva profunda e surpreendentemente atual.
Olhemos para Maria, a mulher plena de dignidade, como um dom que, para nós hoje, nos ajuda a olhar para a sua pureza original, que não a coloca num pedestal inacessível, mas a revela na plenitude daquela dignidade pela qual todos nos sentimos um pouco atraídos, chamados.
Contemplando Maria, vemos brilhar a beleza e a nobreza precisamente da dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, livre do jugo do pecado, plenamente aberto ao amor divino, uma humanidade que não se perde nos detalhes, nas coisas superficiais.
Podemos dizer que o “sim” livre e consciente de Maria é aquele gesto de autodeterminação que a eleva ao nível da vontade de Deus, que entra de alguma forma na lógica de Deus. Sua humildade a torna ainda mais livre, longe de ser diminuída pela humildade. A humildade de Maria se torna a consciência da verdadeira grandeza que vem de Deus.
Essa dignidade de Maria nos ajuda a olhar como nós estamos vivendo a nossa dignidade no cotidiano. O tema da justiça social pode parecer menos explícito, mas a partir de uma leitura contemplativa e atenta do Evangelho, especialmente do Magnificat, somos capazes de captar, sentir e encontrar aquele espírito revolucionário que proclama a derrubada dos poderosos de seus tronos e a elevação dos humildes, isto é, a derrubada da lógica mundana e a atenção privilegiada de Deus para com os pobres e os famintos.
Palavras que fluem de um coração humilde, cheio do Espírito Santo. Podemos dizer que são um manifesto de justiça social “ante litteram”, uma antecipação do Reino de Deus, onde os últimos serão os primeiros.
Contemplemos Maria para que nos sintamos atraídos por esta dignidade que não se limita a fechar-se em si mesma, mas é uma dignidade que no Magnificat nos desafia a não permanecer fechados na nossa lógica, mas a abrir-nos, louvando a Deus, procurando viver o dom recebido para o bem da humanidade, com dignidade para o bem dos pobres, para o bem daqueles que são os descartados da sociedade.
E nós, nos escondemos ou dizemos tudo, como fazem as crianças?
Oração de um filho que tem medo
Maria, tu que te mostras a quem sabe ver…
torna o meu coração capaz de restituir dignidade.
Na hora da provação, olha para as minhas falhas e preenche-as.
Na hora do cansaço, olha para as minhas fraquezas e cura-as.
Na hora da espera, olha para as minhas impaciências e cuida delas.
Para que eu, olhando para os meus irmãos, possa olhar para as suas falhas e preenchê-las,
ver as suas fraquezas e curá-las, sentir as suas impaciências e cuidar delas.
Porque nada cura como o amor e ninguém é forte como a mãe que busca justiça para seus filhos.
Então, também eu, Mãe, detenho-me aos pés da cabana, olho com olhos confiantes para a tua imagem e peço-te pela dignidade de todos os teus filhos.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
8º Dia
Ser Filhos – Doçura e quotidianidade
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Nossa senhora de Banneaux
A pequena Marieta de Banneaux
No dia 18 de janeiro, Marieta está no jardim, rezando o terço. Maria aparece e leva-a até uma pequena nascente à beira da floresta, dizendo: «Esta nascente é minha», e convida a menina a mergulhar a mão e o terço na água. O pai e mais duas pessoas acompanharam, com indescritível espanto, todos os gestos e palavras de Marieta. Naquela mesma noite, o primeiro a ser tocado pela graça de Banneaux foi justamente o pai de Marieta, que correu para se confessar e receber a Eucaristia: ele não se confessava desde a Primeira Comunhão.
No dia 19 de janeiro, Marieta pergunta: «Senhora, quem és?». «Sou a Virgem dos pobres».
À nascente, acrescenta: «Esta nascente é minha, para todas as nações, para os doentes. Venho consolá-los!».
Marieta é uma garota comum que vive os seus dias como todos nós, como os nossos filhos, os nossos netos. A sua vila é pequena e desconhecida. Ela reza para permanecer próxima de Deus. Reza para a sua mãe celeste manter viva a sua ligação com ela. E Maria fala-lhe com doçura, num lugar que lhe é familiar. Aparecerá para ela várias vezes, a ela confiará segredos e dirá para rezar pela conversão do mundo: para Marieta, essa é uma mensagem forte de esperança. Todos os filhos são abraçados e consolados pela Mãe, toda a doçura que Marieta encontra na “Senhora gentil” ela transmite ao mundo. E desse encontro nasce uma grande corrente de amor e espiritualidade que encontra o seu cumprimento no santuário de Nossa Senhora de Banneaux.
Maria, Mãe que permanece ao lado
Tu, que permaneceste ao lado dos teus filhos, sem nunca perder nenhum deles, iluminaste o caminho de todos os dias dos mais humildes. Deles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Abandonados no abraço de Maria: não temas, ela vai consolar-te.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, educação e amor
A Bem-Aventurada Virgem Maria é uma mestra de educação incomparável, porque é uma fonte inesgotável de amor e quem ama educa; educa verdadeiramente quem ama.
Refletindo sobre a figura de Maria em relação a esses dois pilares do crescimento humano e espiritual, temos aqui um exemplo a contemplar, a levar a sério, a adotar em nossas escolhas diárias.
A educação que emana de Maria não se faz de preceitos, de ensinamentos formais, mas se manifesta através de seu exemplo de vida. Um silêncio contemplativo que fala; sua obediência à vontade de Deus, humilde e grande ao mesmo tempo; sua profunda humanidade.
O primeiro aspecto educativo que Maria nos comunica é o da escuta.
Escuta da Palavra de Deus, escuta daquele Deus que está continuamente presente para nos ajudar, para nos acompanhar. Maria guarda em seu coração, medita com cuidado, promove a escuta atenta da Palavra de Deus e, da mesma forma, das necessidades dos outros. Maria nos educa àquela humildade que não escolhe permanecer distante e passiva, mas sim para aquela humildade que, ao mesmo tempo em que reconhecemos nossa pequenez diante da grandeza de Deus, nos colocamos como protagonistas a seu serviço. Nosso coração está aberto para sermos verdadeiramente aqueles que acompanhamos, vivemos o projeto que Deus tem para nós.
Maria é um exemplo que nos ajuda a nos deixarmos educar pela fé; ela nos educa para a perseverança, permanecendo firmes no amor a Jesus, até o pé da cruz.
Educação e amor. O amor de Maria é o coração pulsante de sua existência, continua sendo para nós; cada vez que nos aproximamos de Maria sentimos esse amor materno que se estende a todos nós. É um amor por Jesus que se torna amor pela humanidade. O coração de Maria que se abre com aquela ternura infinita que ela recebe de Deus, que ela comunica a Jesus, aos seus filhos espirituais.
Peçamos ao Senhor que, contemplando o amor de Maria, que é um amor que educa, sejamos impelidos a superar o nosso egoísmo, os nossos fechamentos e a abrir-nos aos outros. Em Maria, vemos uma mulher que educa com amor e que ama com um amor que é educativo. Peçamos ao Senhor que nos dê o dom de um amor, que é o dom do Seu amor, que por sua vez é um amor que nos purifica, nos sustenta, nos faz crescer, para que o nosso exemplo seja verdadeiramente um exemplo que comunica amor e, comunicando amor, possamos deixar-nos educar por ela e que ela nos ajude, para que o nosso exemplo também eduque os outros.
E nós, somos capazes de nos entregar como fazem as crianças?
Oração de um filho dos nossos dias
Maria, tu que te mostras a quem sabe ver…
torna o meu coração manso e dócil.
Quem vai reconstruir-me, depois de quebrar-me sob o peso das cruzes que carrego?
Quem vai trazer luz aos meus olhos, depois de ver os escombros da crueldade humana?
Quem vai aliviar o sofrimento da minha alma, depois dos erros que cometi no meu caminho?
Só tu, minha mãe, podes consolar-me.
Abraça-me e permanece comigo para evitar que eu me quebre em mil pedaços.
Minha alma descansa em ti e encontra paz como uma criança nos braços da mãe.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
9º Dia
Ser Filhos – Construção e sonho
Os filhos confiam, os filhos entregam-se. E uma mãe está sempre por perto. Tu a vês mesmo quando ela não se mostra.
E nós, somos capazes de vê-la?
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Maria Auxiliadora
O pequeno Joãozinho Bosco
Quando eu tinha 9 anos, tive um sonho que ficou profundamente gravado na minha mente para toda a vida. No sonho, parecia estar perto de casa, em um pátio muito espaçoso, onde uma multidão de crianças estava reunida, brincando. Algumas riam, outras jogavam, e não poucas blasfemavam. Ao ouvir aquelas blasfêmias, imediatamente me lancei no meio delas, usando golpes e palavras para fazê-las calar. Naquele momento, apareceu um homem venerando, de idade viril, vestido nobremente.
— Não com golpes, mas com mansidão e caridade deves conquistar esses teus amigos.
— Quem és tu, perguntei, que me ordenas algo impossível?
— Justamente porque essas coisas te parecem impossíveis, deves torná-las possíveis com obediência e com a aquisição da ciência.
— Onde, e por quais meios, poderei adquirir a ciência?
— Eu te darei a mestra sob cuja disciplina podes tornar-te sábio, e sem a qual toda sabedoria se torna tolice.
Naquele momento, vi ao lado dele uma mulher de aspecto majestoso, vestida com um manto que brilhava por todos os lados, como se cada ponto dele fosse uma estrela muito brilhante.
— Eis o teu campo, eis onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte e robusto: e o que agora vês acontecer com esses animais, tu deverás fazer pelos meus filhos.
Então voltei o olhar e, em vez de animais ferozes, apareceram muitos cordeiros mansos, que, pulando, corriam ao redor balindo, como para festejar aquele homem e aquela senhora. Nesse ponto, ainda no sonho, comecei a chorar e pedi para que falasse de modo que eu pudesse entender, pois eu não sabia o que aquilo queria significar. Então ela colocou a mão sobre minha cabeça dizendo:
— A seu tempo, tudo compreenderás.
Maria guia e acompanha Joãozinho Bosco ao longo da sua vida e missão. Ele, ainda criança, descobre a sua vocação através de um sonho. Não entenderá, mas se deixará guiar. Não compreenderá por muitos anos, mas no final estará consciente de que “foi ela que tudo fez” E a mãe, tanto a terrena quanto a celeste, será a figura central na vida desse filho que se fará pão para os seus filhos. E, depois de encontrar Maria em seus sonhos, João Bosco, já sacerdote, erguerá um santuário a Nossa Senhora para que todos os seus filhos possam entregar-se a ela. Será dedicado a Maria Auxiliadora, porque ela foi o seu porto seguro, a sua ajuda constante. Assim, todos que entram na Basílica de Maria Auxiliadora em Turim são acolhidos sob o manto protetor de Maria, que se torna sua guia.
Maria, Mãe que acompanha / que guia
Tu, que acompanhaste o teu filho Jesus em todo o seu caminho, te propuseste como guia para aqueles que souberam ouvir-te com o entusiasmo que só as crianças sabem ter. Deles te aproximaste, a eles te manifestaste.
Deixe-se acompanhar: a Mãe estará sempre ao teu lado para indicar-te o caminho.
Intervenção do Reitor-Mor
Maria Santíssima, auxílio na conversão
A Bem-Aventurada Virgem Maria é uma ajuda poderosa e silenciosa em nossa jornada de crescimento.
É uma jornada que precisa se libertar continuamente daquilo que a impede de crescer. É uma jornada que deve se renovar continuamente, não para retroceder ou se deter em cantos escuros de sua existência. Eis aí a conversão.
A presença de Maria é um farol de esperança, é um convite constante para continuarmos caminhando em direção a Deus, para ajudar nosso coração a estar continuamente focado em Deus, em Seu amor. Refletir sobre Maria, sobre seu papel, significa descobrir uma Maria que não impõe, que não julga, mas que apoia e encoraja, com sua humildade, com seu amor materno; ajuda nosso coração a permanecer próximo dela para nos aproximarmos cada vez mais de seu filho Jesus, que é o caminho, a verdade e a vida.
Este “sim” de Maria na anunciação continua válido também para nós, que abre à humanidade a história da salvação que é alcançável e acessível. Sua intercessão nas Bodas de Caná ampara aqueles que se encontram em situações inesperadas, inéditas. Maria é um modelo de conversão contínua. Sua vida, uma vida de Imaculada, foi, no entanto, uma adesão progressiva à vontade de Deus, um caminho de fé que a conduziu por alegrias e tristezas, culminando no sacrifício do Calvário.
A perseverança de Maria em seguir Jesus torna-se um convite para nós, para que também possamos experimentar essa proximidade contínua, essa transformação interior, que sabemos bem ser um processo gradual, mas que requer perseverança, humildade e confiança na graça de Deus.
Maria auxilia na conversão por meio de uma escuta muito atenta e focada da Palavra de Deus. Uma escuta que nos ajuda a encontrar a força para abandonar os caminhos do pecado, porque reconhecemos a força, a beleza de caminhar em direção a Deus. Dirijamo-nos a Maria com confiança filial, porque isso significa que nós, ao mesmo tempo que reconhecemos nossas fragilidades, nossos pecados, nossos defeitos, queremos fomentar esses desejos de mudança. Uma mudança de coração que quer ser acompanhada pelo coração materno de Maria. Em Maria encontramos essa preciosa ajuda para discernir as falsas promessas do mundo e redescobrir a beleza e a verdade do Evangelho. Que Maria, auxílio dos cristãos, seja para todos nós uma ajuda contínua para descobrir a beleza do Evangelho, para aceitar caminhar em direção à bondade e à grandeza da Palavra de Deus viva nos corações e para poder comunicá-la aos outros.
E nós, somos capazes de deixar-nos pegar pela mão como as crianças?
Oração de um filho entorpecido
Maria, tu que te mostras a quem sabe ver…
faz com que o meu coração seja capaz de sonhar e construir.
Eu, que não deixo ninguém me ajudar.
Eu, que desanimo, perco a paciência e nunca acredito ter construído algo.
Eu, que sempre penso ser um fracasso.
Hoje quero ser filho, aquele filho capaz de te dar a mão, minha Mãe,
para ser acompanhado pelos caminhos da vida.
Mostra-me meu campo,
mostra-me meu sonho
e faz com que, no final, eu também possa compreender tudo e reconhecer a tua passagem
pela minha vida.
Ave Maria…
Bem-aventurado quem vê com o coração.
Novena a Maria Auxiliadora 2025
🕙: 28 min.