(continuação do artigo anterior)
A EUCARISTIA EM SÃO FRANCIS DE SALES (6/8)
Francisco recebe a Primeira Comunhão e Confirmação por volta dos nove anos de idade. A partir de então, ele receberá a Comunhão toda semana ou pelo menos uma vez por mês.
Deus toma posse do seu coração e Francisco permanecerá fiel a esta amizade que se tornará gradualmente o amor da sua vida.
A fidelidade a uma vida cristã continua e é fortalecida durante os dez anos em Paris. “Ele comunga, se não pode mais frequentemente, pelo menos uma vez por mês”. E isto por dez anos!
Sobre seu tempo em Pádua, sabemos que ele ia à missa todos os dias e comungava uma vez por semana. A Eucaristia unida à oração tornou-se o alimento de sua vida e vocação cristã. É nesta profunda unidade com o Senhor que ele percebe a Sua vontade: é aqui que amadurece seu desejo de ser “todo de Deus”.
Francisco é ordenado sacerdote em 18 de dezembro de 1593 e a Eucaristia deveria ser o coração de seus dias e a força do seu gastar-se pelos outros.
Aqui estão alguns testemunhos, extraídos dos Processos de Beatificação:
“Era fácil perceber como se mantivesse em profunda recolhimento e atenção diante de Deus: seus olhos modestamente abaixados, seu rosto era todo recolhido com uma doçura e serenidade tão grandes que aqueles que o observavam atentamente eram atingidos e comovidos”.
“Quando celebrava a Santa Missa ele era completamente diferente de como era habitualmente: rosto sereno, sem distrações, e no momento da comunhão, aqueles que o viam ficavam profundamente impressionados com a sua devoção”.
São Vicente de Paulo acrescenta: “Recordando as palavras do servo de Deus, sinto tanta admiração que sou levado a ver nele o homem que mais do que todos reproduziu o Filho de Deus vivo na terra.
Já sabemos de sua partida em 1594 como missionário para o Chablais.
Passou os primeiros meses abrigado na fortaleza dos Allinges. Visitando o que resta desta fortaleza, fica-se impressionado com a capela, que permaneceu intacta: pequena, escura, fria, rigorosamente em pedra. Aqui Francisco celebrava a Eucaristia todas as manhãs por volta das quatro horas e fazia uma pausa na oração antes de descer a Thonon com um coração cheio de caridade e misericórdia, tirado do divino sacramento.
Francisco tratava as pessoas com respeito, na verdade com compaixão, e “se outros pretendiam fazer-se temer, ele desejava fazer-se amar e entrar nos corações pela porta da complacência” (J.P. Camus).
É a Eucaristia que sustenta seus esforços iniciais: não responde aos insultos, provocações, linchamentos; relaciona-se com todos com cordialidade.
Seu primeiro sermão como subdiácono tinha sido sobre o tema da Eucaristia e certamente lhe serviria bem agora, porque “este augusto sacramento” seria seu cavalo de batalha: nos sermões que ele fazia na igreja de São Hipólito, ele abordava frequentemente este tema e expunha o ponto de vista católico com clareza e paixão.
Este testemunho, dirigido ao amigo A. Favre, fala da qualidade e do ardor da sua pregação sobre um tema tão importante:
“Ontem não demorou muito para que as pessoas mais proeminentes da cidade viessem publicamente ouvir a minha pregação, tendo ouvido que eu iria falar sobre o augusto sacramento da Eucaristia. Eles estavam tão ansiosos para me ouvir expor o pensamento católico sobre este mistério que aqueles que não ousaram vir publicamente, me escutaram de um lugar secreto onde não podiam ser vistos”.
O Corpo do Senhor transfunde gradualmente no coração de pastor doçura, mansidão, bondade, de modo que até a voz de seu pregador é afetada: um tom calmo e benevolente, nunca agressivo ou polêmico!
“Estou convencido de que quem prega com amor, prega suficientemente contra os hereges, mesmo que não diga uma única palavra ou não discuta com eles”.
Eloquente mais do que um tratado é esta experiência que ocorreu em 25 de maio de 1595.
Às três horas da manhã, enquanto meditava profundamente sobre o santíssimo e augusto sacramento da Eucaristia, ele se sentiu extasiado por uma tão grande abundância do Espírito Santo que seu coração se deixou levar por uma efusão de prazer, de modo que foi obrigado a se atirar finalmente ao chão e exclamar: “Senhor, retira-te de mim porque não posso mais sustentar a superabundância da tua doçura”.
Em 1596, após mais de dois anos de catequese, ele decidiu celebrar as três missas de Natal. Elas foram celebradas em meio ao entusiasmo e à emoção geral. “Francisco estava feliz! Esta missa da meia-noite de Natal de 1596 foi um dos pontos altos da sua vida. Nesta missa foi a Igreja, a Igreja Católica restabelecida em seu fundamento vivo”.
O Conselho de Trento havia defendido a prática dos santasQuarenta Horas, que consistia na adoração do Santíssimo Sacramento durante três dias consecutivos por toda a comunidade cristã.
No início de setembro de 1597, eles aconteceram em Annemasse, às portas de Genebra, com a presença do bispo, Francisco e outros colaboradores, com um fruto muito maior do que se esperava. Eram dias intensos de oração, procissões, sermões, missas. Mais de quarenta paróquias participaram com um número incrível de pessoas.
Dado o sucesso, no ano seguinte eles foram realizados em Thonon. Foi uma festa de vários dias que superou todas as expectativas. Tudo terminou tarde da noite, com o último sermão feito por Francisco. Ele pregou sobre a Eucaristia.
Muitos estudiosos da vida e obra do santo afirmam que somente seu grande amor pela Eucaristia pode explicar o “milagre” do Chablais, ou seja, como este jovem padre foi capaz de trazer toda a vasta região de volta à Igreja em apenas quatro anos.
E este amor durou toda sua vida, até o final. No último encontro que teve em Lyon com suas Filhas, as Visitandinas, já no fim da vida, “ele falou-lhes sobre confissão e comunhão.
O que foi a Eucaristia para o nosso santo? Era antes de tudo:
O coração do seu dia, que o fazia viver em íntima comunhão com Deus.
“Ainda não te falei do sol dos exercícios espirituais: o Santíssimo e Supremo Sacrifício e Sacramento da Missa, o centro da religião cristã, o coração da devoção, a alma da piedade”.
É a entrega confiante da sua vida a Deus a quem ele pede força para continuar a sua missão com humildade e caridade.
“Se o mundo vos perguntar por que comungai tão frequentemente, respondei que é para aprender a amar a Deus, para purificar-vos das vossas imperfeições, para libertar-vos das vossas misérias, para encontrar força em vossas fraquezas e consolo em vossas aflições. Dois tipos de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos, pois estando bem-dispostos, fariam mal em não se aproximar da fonte e do manancial da perfeição; e os imperfeitos, para poder tender à perfeição. Os fortes para não enfraquecerem e os fracos para se fortalecerem. Os doentes para se curarem e os saudáveis para não adoecerem”.
A Eucaristia cria em Francisco uma profunda unidade com muitas pessoas.
“Este sacramento não só nos une a Jesus Cristo, como também ao nosso próximo, com aqueles que participam do mesmo alimento e nos faz uma só coisa com eles. E um dos principais frutos é a caridade recíproca e a doçura de coração um para com o outro, pois pertencemos ao mesmo Senhor e n’Ele estamos unidos uns aos outros, coração a coração”.
É uma transformação progressiva em Jesus.
“Aqueles que fazem uma boa digestão corporal sentem um fortalecimento para todo o corpo, para a distribuição geral que se faz do alimento. Assim, minha filha, aqueles que têm uma boa digestão espiritual sentem que Jesus Cristo, que é o seu alimento, se espalha e se comunica a todas as partes de sua alma e corpo. Eles têm Jesus Cristo no cérebro, no coração, no peito, nos olhos, nas mãos, nos ouvidos, nos pés. Mas o que esse Salvador faz em todos os lugares? Ele endireita tudo, purifica tudo, mortifica tudo, vivifica tudo. Ama no coração, compreende no cérebro, anima no peito, vê nos olhos, fala na língua, e assim por diante: faz tudo em todos e então nós vivemos, não nós, mas é Jesus Cristo que vive em nós. Ele também transforma os dias e as noites, de modo que as noites são dias em que Deus está em nossos corações e os dias tornam-se noites quando Ele não está”.