Agora vamos contar outro belo sonho que Dom Bosco teve nas noites de 3, 4 e 5 de abril de 1861. O P. Bonetti escreveu: “Diversas situações que são admiradas nele convencerão cabalmente o leitor ser um daqueles sonhos com que o Senhor, de quando em quando, se compraz em mandar aos seus servos fiéis”. P. Bonetti e P. Ruffino o relataram com detalhes. Assim nós o exporemos.
Na noite de 7 de abril, depois das orações, Dom Bosco subiu ao estrado para dirigir algumas boas palavras a seus jovens e começou assim: – Tenho uma coisa muito curiosa para contar. Vou contar um sonho. É um sonho e, portanto, não é uma realidade. Aviso vocês sobre isso para que não deem maior importância do que merece. Antes de começar devo antecipar umas observações. Para vocês eu revelo tudo. O que é dito aqui não deve cair lá fora. Seja dito e fique só entre nós. Claro que quem comentar lá fora com pessoas estranhas não é réu de pecado, mas é melhor que não ultrapasse as soleiras desta casa.
Podem comentar entre vocês e rir. Brinquem sobre o que estou para contar-lhes quanto lhes parecer e agradar, mas também só com as poucas pessoas que podem julgar de confiança e que possam tirar disto algum proveito e a quem acharem conveniente fazê-lo. O sonho está dividido em três partes. Foi feito em três noites consecutivas e, por isso, nesta noite, contarei apenas uma parte, e as outras duas, nas noites seguintes. O que mais me causou estupefação é que eu retornei ao sonho na segunda e na terceira noites, partindo do mesmo ponto em que tinha sido interrompido na noite anterior ao acordar.
PRIMEIRA PARTE
Os sonhos se fazem dormindo. Por isso eu estava dormindo. Alguns dias antes eu tinha saído de Turim e passei por perto das colinas de Moncalieri. A paisagem das colinas verdejantes ficou-me impressa. Pode ser que nas noites seguintes, estando a dormir, a imagem daquele panorama maravilhoso de novo viesse a estampar-se-me na mente e movimentando a fantasia brotasse o prazer de fazer um passeio. O caso é que eu, estando a sonhar, decidi fazer o passeio. Parecei-me estar no meio dos meus jovens em uma planície. Diante dos meus olhos erguia-se uma alta e vasta colina. Estávamos todos parados. De repente fiz aos jovens uma proposta: – Vamos fazer um belo passeio?
– Vamos!
– Mas aonde!?
– Olhamo-nos entre nós, pensamos, e, não sei por qual surpresa, alguém começou a dizer: – Vamos ao paraíso!?
– Sim! Sim! Vamos ao paraíso! – gritaram alguns.
– É isso mesmo! Vamos fazer um belo passeio ao paraíso, replicaram outros.
– Bem! Ótimo! Vamos embora! Gritaram todos de acordo.
Estávamos na planície e pusemo-nos a caminho. Depois de algum tempo encontramo-nos aos pés da colina. Começamos a trilhar suas veredas. Era um espetáculo maravilhoso, extenso quanto a vista podia abarcar; a ladeira daquela vasta colina estava coberta de plantas de todas as espécies, tenras e baixas, robustas e altaneiras e, estas, não mais grossas do que um braço.
Havia pés de peras, de maçãs, de cerejas, de ameixas, de videiras etc., etc. Mas o que era estranho é que em cada árvore viam-se flores que começavam a desabrochar, flores já formadas e com cores variadas, frutos pequenos e verdes, frutos grandes e maduros, de tal sorte que sobre cada planta havia quanto existe de bonito na primavera, no verão e no outono. Havia tanta quantidade de frutas que parecia as árvores não poderem suportar o peso.
Os jovens vinham a mim e me perguntavam curiosamente a explicação do fenômeno, porque não conseguiam dar-se conta de semelhante milagre. Lembro-me de que, para satisfazê-los de algum modo, eu lhes dava esta resposta:
– Eis! O paraíso não é como a nossa terra onde as temperaturas mudam junto com as estações. Aqui não há mudanças. A temperatura é sempre a mesma, suavíssima, aclimatada à natureza de cada planta. Por isso ajunta em si mesma e ao mesmo tempo, tudo o que existe de belo e de bom nas diversas estações do ano.
Estávamos estupefatos e estáticos admirando aquele jardim encantado. Bafejava uma aura suavemente doce. Reinava no ar muita calma, tepidez, suavidade de perfumes que nos inebriava a todos, fazendo-nos perceber que estávamos a saborear as delícias de todo tipo de frutas. Aqui os jovens apanhavam uma maçã, lá uma pera, ora uma cereja, ora um cacho de uva. E deste modo, todos juntos subíamos lentamente a colina. Quando chegamos ao topo achávamos ter chegado ao paraíso. Pelo contrário, estávamos muito longe ainda. Desde aquele patamar ao lado de lá de uma grande esplanada, no meio de um vasto altiplano, via-se uma altíssima montanha que tocava as nuvens.
Para galgar esta montanha a gente se arrastava com dificuldade, mas com muito entusiasmo. Muita gente subia e lá no topo estava Alguém que convidava os que subiam e os encorajava. Víamos também outros que desciam do topo até embaixo e vinham ajudar os cansados por terem escalado íngremes encontras. Aqueles que, finalmente, atingiam a meta eram recebidos com grande festa e muito júbilo. Nós percebemos que lá era o paraíso e, dirigindo-nos em direção ao altiplano, rodeamos aquela montanha para ver e só também subirmos. Já tínhamos percorrido um longo caminho. Alguns jovens corriam para chegarem logo e estavam muito à frente do grosso da turma de companheiros.
Mas vejam só! Antes de chegar ao sopé da montanha havia naquele altiplano um grande lago cheio de sangue, de um tamanho como o espaço entre o Oratório e a Praça do Castelo. Espalhados pelas margens havia pedaços de mãos, pés, braços, pernas, crânios esfacelados, corpos esquartejados e outros membros lacerados. Miserando espetáculo de horror. Parecia que neste lugar houvesse sido combatida uma sangrenta batalha. Os jovens, que corriam na frente e chegaram por primeiros, paralisaram-se apavorados. Eu ainda estava longe, não me tinha apercebido de nada e observei seus gestos de assombro, que não caminhavam mais, estavam atônitos. Então gritei: – O que significa esta tristeza? O que está acontecendo? Continuem!
– Ah! Sim! Ir para a frente? Venha! Venha ver! Assim me responderam eles. Apurei os passos e vi! Os outros jovens também chegaram. Antes eles estavam muito alegres e agora ficaram mudos e tristonhos. Fiquei de pé às margens do lago misterioso, mas não dava para passar para o outro lado. De frente, nas margens opostas via-se escrito em grandes caracteres: Per sanguinem (pelo sangue).
Os jovens comentavam entre si: – O que significa isso!? O que quer dizer este espetáculo?
Então eu perguntei a “UM”, que agora não me lembro mais quem fosse, e ele me disse:
– Pois este é o sangue derramado por aqueles, e são muitos e muitos, que já alcançaram o topo da montanha e chegaram ao paraíso. Este é o sangue dos mártires! Aqui está o sangue de Jesus Cristo com quem foram banhados os corpos daqueles que foram mortos por casa do testemunho da fé. Ninguém pode chegar ao paraíso sem antes passar por este sangue e sem ser aspergido. Este sangue defende a montanha sagrada. É figura da Igreja Católica. Qualquer um que tentar escalá-la, afogar-se-á. Por conseguintes, todas essas mãos e pés decepados, as caveiras esfaceladas, os membros em pedaços espalhados sobre estas margens são restos miseráveis de todos os inimigos que tentaram combater a Igreja. Todos foram feitos em pedaços! Todos se afogaram neste lago! Aquele jovem misterioso durante sua conversa tinha citados muito mártires, entre os quais estavam os soldados do Papa, caídos no campo de batalha para defender o domínio temporal do Pontífice.
Depois de ter disto isto, mostrou-nos à nossa direita, na direção do oriente, ao fundo, uma imensa depressão, muito maior, umas quatro ou cinco vezes mais extensa do que o lago de sangue, e falou:
– Estão vendo aquela depressão? Saibam que lá dentro será depositado o sangue daqueles que, por este caminho subirão para chegar ao cimo do monte, o sangue dos justos, daqueles que morrerem pela fé nos tempos vindouros.
Eu encorajava os jovens estarrecidos com aquele espetáculo que contemplavam e o que lhes era anunciado e dizia: Se tivermos que morrer mártires, nosso sangue seria colocado naquela depressão, mas nossos membros jamais seriam atirados junto com aqueles que lá estavam espalhados pelas margens.
Todavia apressamo-nos a retomar a caminhada costeando aquelas beiradas. Tínhamos à esquerda o cume da colina por onde tínhamos vindo e à direita o lago e a montanha. A certo ponto, onde terminava o lago de sangue, havia um terreno coberto de carvalhos, de loureiros, palmeiras e outras plantas. Embrenhamo-nos neste bosque para ver se era possível aproximar-nos da montanha. Mas eis apresentar-se outro espetáculo: um segundo lago bem grande, cheio de água e dentro dele mais membros decepados e corpos esquartejados. Na margem também havia uma inscrição com caracteres grandes: Per aquam (pela água).
E de novo nós perguntamos:
– O que é? O que não é? Quem nos daria a explicação para aquele outro mistério?
Neste lago “ALGUÉM” nos disse: – Esta é a água vertida do lado de Cristo que, embora em pequena porção, todavia aumentou tanto, aumenta continuamente e continuará no futuro. Esta é a água do Santo Batismo na qual foram lavados e purificados aqueles que já subiram esta montanha e com a qual deverão ser batizados e purificados os que ainda deverão subir no futuro. Todos os que quiserem chegar ao paraíso devem ser purificados com esta água. Ou se chega lá pela inocência ou pela penitência. Ninguém pode salvar-se sem ser banhado por esta água.
Apontando para os restos humanos, prosseguiu:
– Aqueles membros de mortos são dos que no tempo presente atacaram a Igreja.
No entanto, nós vimos muita gente e também alguns dos nossos jovens que caminhavam sobre as águas com rapidez extraordinária e com leveza tal que apenas tocavam a água com a ponta dos pés sem se molharem e chegavam à outra margem.
Nós estávamos boquiabertos com aquele portento, mas nos foi dito: – Estes são os justos, as almas dos santos. É a alma dos santos logo que se livra da prisão do corpo e também o corpo, quando está glorificado, não só desliza suave e velozmente sobre a água, mas também voa livremente pelos ares.
Então os jovens desejaram correr sobre as águas daquele lago como tinham feito os que tinham visto. Voltavam-se para mim como que perguntando com o olhar se devia arriscar. Ninguém se atrevia, e eu lhes dizia:
– De minha parte eu não arrisco. É uma temeridade julgar-nos tão justos, de pretender andar sobre as águas sem afundar.
Então eles disseram:
– Se o senhor não vai, muito menos nós.
Continuamos indo para frente sempre rodeando a montanha. Eis que chegamos a um terceiro lago, tão extenso quanto o primeiro, cheio de fogo e tendo no interior outros membros humanos mutilados e cortados. Na margem oposta podia-se ler um cartaz: Per ignem (pelo fogo) Enquanto nós observávamos aquela planície de labaredas aí, aquele tal disse:
– Aqui está o fogo da caridade de Deus e dos santos. As chamas do amor e do desejo por onde devem passar todos os que não passaram pelo sangue e pela água. Este é também o fogo com que foram atormentados e consumados pelos tiranos os corpos de tantos mártires. Muitos foram os que tiveram que atravessar este caminho para dar a volta e subir esta montanha. Estas chamas servirão para queimar seus inimigos. – Pela terceira vez nós vimos triturados os inimigos do Senhor no campo de suas derrotas.
Nos apressamos para ir mais à frente. No lado de lá deste lago, havia mais um lago semelhante a um anfiteatro que apresentava um espetáculo ainda mais horroroso. Estava cheio de animais ferozes, lobos, ursos, tigres, leões, panteras, serpentes, cães, gatos e muitos outros monstros que estavam com as fauces escancaradas para devorar quem quer que se aproximasse. Víamos pessoas andando por sobre as cabeças pavorosas dos animais sem medo algum e sem sofrer lesão nenhuma. Eu queria chamá-los de volta e gritava com todas as forças:
– Não! Pelo amor de Deus! Fiquem longe! Não vão para frente! Não enxergam que essas feras estão esperando para despedaçar e devorar vocês!? – Porém, minha voz não era ouvida e eles continuavam a caminhar rente aos dentes e sobre as cabeças das feras, como se fosse a pista mais segura. O costumeiro intérprete então me falou: – Estas feras são os demônios, os perigos e as tramoias do mundo. Os que andam incólumes sobre as feras são as almas justas, os inocentes. Você não sabe que está escrito: Super aspidem et basiliscum ambulabunt et conculcabunt leonem et draconem? (Caminharão por sobre a víbora e o basilisco e pisarão sobre o leão e o dragão). Destas almas já falava o profeta/rei Davi. No Evangelho se lê: Ecce dedi vobis potestatem calcandi supra serpentes e scorpiones e super omnem virtutem inimici et nihil vobis nocebit (Eis que vos dei o poder de pisar sobre serpentes e escorpiões e sobre todo poder do inimigo e nada vos prejudicará – Lc 10,19).
Nós nos perguntávamos:
– Como faremos para passar para o outro lado? Teremos que passar também sobre aquelas cabeças horrendas?
– Sim! Claro! Venha! Vamos! Me disse alguém.
– Eu não tenho coragem – respondi. É ser muito presunçoso julgarmo-nos justos para poder atravessar ilesos sobre as cabeças destes monstros ferozes. Se vocês quiserem, podem ir. Eu não vou!
E, mais uma vez os jovens repetiram:
– Oh! Bem! Se o senhor não se atreve, muito menos nós.
Afastamo-nos do lago das feras. Avistamos um enorme terreno cheio de gente. No meio dessa gente havia pessoas que pareciam estar sem nariz, sem orelhas, alguns sem cabeça. De algum faltava um braço, outro estava sem pernas, um não tinha os pés, outro as mãos. Havia quem não tinha língua. De outro tinham arrancado os olhos. Os jovens estavam espantados com aquela gente em tão mau estado, mas eis que “ALGUÉM” nos disse:
– São os amigos de Deus. São os que para se salvarem mortificaram os sentidos, perderam os ouvidos, arrancaram os olhos, perderam a língua e, portanto, fizeram muitas obras meritórias. Muitos perderam aquelas partes do corpo por causa das grandes obras de penitência ou trabalhando pelo amor de Deus ou do próximo. Aqueles que estão sem cabeça são os que se consagraram inteiramente ao Senhor.
Enquanto observávamos aquele cenário, víamos muitas pessoas, parte delas tinha atravessado os lagos e estava subindo a montanha e se ajuntaram com os lá de cima, os quais davam a mão e encorajavam os que se esforçavam para subir. Depois voltavam-se, batiam palmas e diziam:
– Bravos! Muito bem! – Com o barulho destes aplausos e dos gritos acordei e percebi que estava em minha cama. Esta é a primeira parte do sonho, isto é, a primeira noite.
Na noite do dia 8 de abril, Dom Bosco se apresentou aos jovens, ansiosos por ouvirem a continuação do sonho. De saída renovou a proibição dos jovens ficarem pondo as mãos sobre os companheiros e proibiu também de ficarem se movimentando pelo salão de estudo, de andar de cá para lá e disse ainda: – Quem precisa sair do estudo por qualquer motivo, sempre deve pedir licença ao chefe da mesa. Os jovens estavam impacientes e Dom Bosco sorridente, dada uma olhada no entorno, fez breve pausa e prosseguiu:
SEGUNDA PARTE
Reavivem bem a memória. Lembrem que havia um grande lago que ainda devia se encher de sangue nos fundos de uma depressão vizinha ao primeiro lago. Depois de ter visto todos aqueles diversos espetáculos já descritos e tendo dado a volta ao redor daquele imenso altiplano, encontramos um lugar aberto que nos permitia passar além e avançarmos, e todos os meus jovens, por um vale que na extremidade dava para uma grande praça. Entramos. Era uma praça larga e espaçosa na entrada, mas ia se afunilando aos poucos, de modo que no fundo, perto da montanha, terminava numa estrada entre dois penhascos por onde podia passar uma pessoa por vez. A praça estava cheia de gente contente e feliz que se divertia. Todos iam na direção daquela estreitíssima passagem que dava para o monte. Nós nos perguntamos:
– Será que é aquele o caminho do paraíso?
– Aqueles que se tinham apinhado no lugar, um por vez, iam entrando naquele caminho e para entrarem deviam apertar bem as roupar e encolher os membros, diminuírem de tamanho e depor, se é que tinham, as trouxas ou qualquer outra coisa. Aquilo foi o suficiente para me assegurar que aquele era o caminho do paraíso e veio-me à memória que para entrar no céu não basta apenas despojar-se do pecado, mas também deixar para trás qualquer pensamento, todo apego terreno, segundo o que diz o Apóstolo: Nil coinquinatum intrabit in ea (Nada de contaminado entrará nela – Ap 21,27).
Por um certo tempo nós ficamos lá a olhar. Mas como eu fui tolo! Em vez de nós tentarmos a passagem, voltamos para trás para ver o que havia do lado de trás da praça. Vimos muitas outras pessoas ao longe e nos deixamos levar pela curiosidade para ver o que estavam a fazer. Por isso nos embrenhamos num campo muito grande em que a vista humana não conseguia divisar o horizonte. Lá nos encontramos no meio de um espetáculo esquisito. Vimos homens e também muitos de nossos jovens encangados com vários tipos de animais. Eu pensei: – O que significa isto? – Então veio-me à mente que o boi é símbolo da preguiça e pensei que eram os jovens preguiçosos. Eu os conhecia e via alguns que realmente eram inertes, morosos no cumprimento dos deveres e pensava comigo mesmo: – Sim! Fica aí! Está bem para você: você nunca quer fazer nada. Então fica ali junto com este animal.
Depois vi outros atrelados com asnos. Eram os cabeçudos e assim, formando dupla, carregavam pesos e pastavam com os burros. São os que não querem submeter-se aos conselhos e nem às ordens dos superiores. Vi outros formando parelhas com mulas ou cavalos e me lembrei do que diz o Senhor: Factus est sicut equus et mulus quibus non est intellectus (Tornou-se como cavalo e mula que não têm inteligência – Sl 31,9). São aqueles que nunca querem pensar nas coisas da alma. Infelizes desmiolados!
Vi outros mais que pastavam com os porcos: grunhiam na imundície e fuçavam no barro como fazem aqueles animais imundos. Como os porcos eles rolavam na lama. São os que só se interessam pelas coisas terrenas, que vivem nas paixões torpes, que ficam longe do Pai Celeste. Que espetáculo triste! Então pensei no que diz o Evangelho a respeito do filho pródigo que ficou reduzido àquele estado: luxuriose vivendo (vivendo luxuriosamente).
Por fim vi muitas pessoas e jovens com gatos, cães, galos, coelhos etc., etc., ou seja, os ladrões, os escandalosos, os soberbos, os cheios de respeito humano e assim por diante. Desta variedade de cenas percebemos que o extenso vale era o mundo. Olhei bem para cada um daqueles jovens, um por um. Avançamos mais um pouco naquele campo de imensa planura e fomo para outro lado também muito espaçoso. Era um declive quase imperceptível do terreno e íamos descendo sem notar a inclinação.
Percebemos que a certa distância o terreno parecia tomar o aspecto de um jardim e dissemos:
– Vamos ver o que há lá?
– Vamos!
Encontramos belíssimas rosas purpúreas e os jovens exclamavam:
– Oh! Que rosas bonitas! Oh! Que belas rosas! – E correram para colhê-las. Logo que as tiveram nas mãos perceberam que exalavam nauseabundo fedor. Aquelas rosas vermelhas e tão especiais por fora, por dentro estavam apodrecidas. Os jovens ficaram decepcionados. Vimos também violetas fresquíssimas na aparência, que pareciam dever exalar agradável odor. Mas aproximando-nos para colher algumas para formar um ramalhete, percebemos que por baixo elas também estavam podres e fétidas.
E continuávamos avançando em meio a pequenas copeiras encantadoras de árvores carregadas de frutas, que eram uma delícia admirá-las. Especialmente as macieiras, que aspecto encantador! Um jovem logo correu e apanhou uma pera bem grande que de mais bonita e mais madura parecia haver. Apenas lhe cravou os dentes jogou-a fora decepcionado. Estava cheia de terra e areia e com um gosto que fazia vomitar. E nos perguntamos:
– Afinal, o que é isso?
Um dos nossos jovens, de quem eu sei o nome, falou: – Não seria isto tudo aquilo que o mundo apresenta de bom e de belo? Tudo é aparência, tudo é insípido!
Enquanto pensávamos para onde nos conduziria aquele nosso caminho, aí percebemos finalmente que ele estava em descida, embora o declive fosse apenas perceptível. Um jovem então observou:
– Aqui a gente está descendo, está indo para baixo. Não estamos no caminho certo!
Eu respondi: – Éh! Vamos ver!
De repente apareceu uma multidão imensa que corria por aquela estrada onde estávamos nós. Alguns vinham de carruagem, outros a cavalo, muito a pé. Pulavam, brincavam, cantavam, dançavam ao som de música e outros marchavam ao ritmo de tambor. Era uma festa e um tripúdio indizível. Dissemos:
– Vamos parar um pouco para observar, antes de nos metermos no meio dessa gente.
Naquele momento um jovem percebeu no meio daquela multidão alguns que acompanhavam e pareciam orientar os diversos grupos. Eram pessoas de bela aparência, bem vestidas e de boas maneiras. Porém, notava-se que sob os chapéus tinham chifres. Aquela imensa planície era, portanto, o mundo perverso e maligno. Est via quae videtur homini recta, et novíssima ejus ducunt ad mortem (Este é o caminho que ao homem parece certo, mas que seus desmandos levam à morte – Pr 16,25). De repente “ALGUÉM” nos alertou:
– Eis como os homens vão para o inferno quase sem se darem conta!
– Tendo visto e ouvido aquilo, logo chamei os jovens que iam à frente, e eles se puseram a correr a meu encontro e bradavam:
– Nós não queremos ir lá para baixo. – Todos continuaram a correr refazendo o caminho já trilhado e deixaram-me sozinho. E disse logo que os alcancei:
– Sim! Vocês têm razão. Vamos fugir logo daqui. Voltemos para trás, caso contrário, sem que percebamos, desceremos também nós para o inferno.
E queríamos voltar para a praça donde tínhamos partido e finalmente também posicionarmo-nos no caminho que levava para a montanha do paraíso. Mas, qual não foi a nossa surpresa quando, depois de longo caminhar, não mais vimos o vale por onde se ia ao paraíso, mas apenas um prado e nada mais. Andamos de um lado para outro, mas não conseguimos nos orientar.
Alguém disse:
– Erramos o caminho!
– Outro falava:
– Não! Não erramos. O caminho é este! – Enquanto os jovens altercavam entre si, e cada um sustentava a própria opinião, eu acordei.
Esta é a segunda parte do sonho acontecido na segunda noite. Mas antes de irem para a cama, ouçam mais isto: Não quero que vocês atribuam importância ao meu sonho, mas lembrem-se que os prazeres que conduzem à perdição não são apenas aparentes, não têm apenas o aspecto de beleza. Lembrem-se de tomar cuidado daqueles vícios que nos tornam tais quais os bichos e nos fazem merecedores de sermos atrelados junto com eles. Guardem-se de modo especial de certos pecados que nos transformam semelhantes aos animais imundos. Oh! Quão contraditório é para uma criatura racional ser comparada com bois ou burros! Como é inadequado, para quem foi criado à imagem e semelhança de Deus e tornado herdeiro do paraíso, chafurdar-se na lama como porcos que a Sagrada Escritura define luxuriose vivendo (vivendo luxuriosamente).
Eu não revelei a vocês senão as circunstâncias principais do meu sonho e de modo breve, porque, para contar tudo como foi, demoraria demais. Também ontem à noite só fiz um pequeno resumo de quanto eu vi. Amanhã de noite eu vou contar a terceira parte.
Na noite de sábado, 9 de abril, Dom Bosco continuou suas descrições.
TERCEIRA PARTE
Eu não gostaria de contar a vocês os meus sonhos. Anteontem, logo que comecei a contar, arrependi-me da promessa. Quereria não ter dado início à exposição daquilo que vocês querem saber. Mas preciso dizê-lo: se calar, se ficar com meu segredo só para mim, eu sofro imensamente e contando-o recebo deste desabafo um grande alívio. Então vou contar.
Antes, porém, devo dizer que nas noites anteriores tive que cortar muitas coisas sobre as quais não ficava bem eu comentar. Deixei também outras que podem ser vistas com os olhos, mas podem ser expressas com palavras.
Repassem na memória as cenas ditas. Depois de ter visto os diversos lugares e os caminhos pelos quais se vai ao inferno, nós queríamos a todo custo chegar ao paraíso. Mas, anda pra cá, anda pra lá, anda que anda, desviamo-nos sempre para ver coisas novas. Mas por fim descobrimos a vereda e atingimos a praça onde estava reunida tanta gente que lutava para chegar na montanha. A praça que parecia tão grande terminava numa passagem pequena e estreita entre dois penhascos. Quem se enfiava por esta passagem, apenas saído do outro lado, devia atravessar uma ponte muito comprida, muito estreita e sem corrimão. Debaixo dela havia um precipício abissal.
Nós dissemos: – Oh! Lá está o lugar que conduz ao paraíso! Ei-lo. Vamos! – E nos dirigimos para lá.
Alguns jovens se puseram a correr e deixaram os companheiros para trás. Eu queria que nos esperassem, mas eles estavam porfiando em chegar antes do que nós. Chegando na cabeceira estancaram espantados e não ousavam pôr o pé. Eu os incentivava para que atravessassem:
– Vamos! Para a frente! O que estão esperando? – E eles me respondiam:
– Ah! Sim! Venha o senhor experimentar! Dá medo ter que passar por um lugar tão estreito e atravessar a ponte. Se pisar em falso a gente cai naquelas águas profundas e encachoeiradas neste abismo, e ninguém mais nos vê.
Finalmente um criou coragem e avançou por primeiro, depois um segundo o seguiu e, assim, todos os outros, um após outro, e chegamos do outro lado. Chegamos ao pé da montanha. Tentamos subir, mas não conseguimos encontrar uma trilha sequer. Rodeamos as faldas procurando, mas opunham-se-nos dificuldades e empecilhos mil. Num lugar havia penhascos espalhados em desordem. Noutro enorme pedra a transpor. Aqui um precipício, ali uma moita espinhenta impedia a escalada. A subida era escarpada por todos os lados. Era, portanto, escabroso o sacrifício a que íamos ao encontro. Em todo caso não desanimamos e começamos a avançar com denodo. Depois de uma hora de árdua subida, ajudando-nos com mão e pés e socorrendo-nos mutuamente, os obstáculos foram diminuindo e, a certo ponto, o caminho começou a se mostrar praticável e conseguimos subir mais comodamente.
De repente chegamos a um lugar daquele morro onde vimos muita gente que sofria de maneira tão horrível, tão estranho que todos ficamos tomados de pavor e pena. Não posso contar a vocês o que vi porque lhes causaria muita compaixão e não suportariam minha narrativa. Então não digo nada, e vamos para frente.
A seguir vimos grande número de outras pessoas que também subiam espalhadas pelos flancos da montanha e que, chegando ao topo, eram acolhidas por aqueles que as esperavam com grandes festas e aplausos prolongados. Ao mesmo tempo podíamos ouvir uma música verdadeiramente celestial, um coral de vozes muito doces e os mais suaves hinos perfeitamente modulados. Isto nos animava mais e mais a continuar a subida. Enquanto caminhava, eu ia pensando com meus botões e dizia aos jovens:
– Mas nós que queremos chegar ao paraíso, será que estamos mortos? Mas eu sempre ouvi dizer e sei que antes é preciso passar pelo juízo! Será que nós já fomos julgados? – Eles respondiam:
– Não! Nós ainda estamos vivos. Ainda não chegamos ao julgamento. – E ríamos. – Mas retruquei:
– Vivos ou mortos, vamos para frente para ver o que há lá em cima: alguma coisa deve haver. – E aceleramos o passo.
Depois de tanto caminhar, finalmente chegamos também nós quase ao cume da montanha. Os que estavam lá no alto já estavam preparados para nos receber com festa. Aí voltei-me para trás para ver se estavam comigo todos os jovens. Com muita dor encontrei-me quase sozinho. De tantos meus pequenos companheiros não me sobravam senão três ou quatro.
Perguntei, parando de andar e não pouco ressentido: – E os outros? – Disseram-me:
– Pararam aqui e acolá. Talvez venham.
Olhei para baixo e os vi dispersos pela montanha, parados. Alguns procuravam caracóis entre as pedras, outros recolhiam flores sem odores, uns catavam flores silvestres, havia quem corresse atrás de borboletas, quem seguia grilos, além de outros a descansar sentados sobre terreno argiloso e sem vegetação, à sombra de alguma planta etc., etc. Pus-me a gritar com toda a força, bracejava fazendo sinais, chamava-os pelo nome um a um, para que viessem logo, pois não era tempo de parar. Alguns vieram, de maneira que eram mais ou menos oito junto comigo. Os outros não davam bola para meus apelos e nem pensavam em vir para cima, ocupados que estavam com aquelas bagatelas. Mas eu não queria ir para o paraíso com tão poucos jovens. Decidi ir buscar aqueles renitentes e falei para os que estavam comigo: – Eu desço e vou buscar aqueles desgarrados. Vocês fiquem aqui.
E fui. A quantos eu encontrei descendo, empurrei-os para o alto. A um dava um conselho, a outro uma repreensão carinhosa, a um terceiro, uma solene reprimenda; um bofetão em um, a outro um empurrão. Esforçava-me para dizer:
– Vão para cima, por caridade, não parem atrás destas ninharias. – E assim eu descendo, os tinha chamado quase todos e me achava já nas faldas da montanha que nós tínhamos subido com tanta fadiga. Havia alguns que estavam cansados pelo esforço da subida e assustados com a altura a atingir e voltavam para trás. Então voltei-me para recomeçar a subida e voltar para onde estavam os jovens. Que nada! Tropecei numa pedra e acordei.
Eis o sonho que acabei de contar-lhes. Porém, eu quero duas coisas de vocês: peço-lhes que não o contem fora de casa a nenhuma pessoa estranha, porque se alguém deste mundo ouvisse estas coisas acharia graça delas. Eu conto os sonhos a vocês para diverti-los: comentem-no entre vocês quanto quiserem, mas entendo que não devem dar importância mais do que a um sonho convém. E mais uma coisa: ninguém venha me perguntar quem era, se estava ou não lá, o que fazia ou não, se vocês estavam entre os poucos ou os muitos, que lugar ocupavam… e assim por diante, porque seria repetir a música deste inverno. Para alguns poderia ser mais desvantajoso do que útil e não quero turvar as consciências.
Só digo que se o sonho não tivesse sido um sonho apenas, mas uma realidade, e tivéssemos devido morrer de verdade, então, entre muitos jovens que aqui estão, se se encaminhassem na direção do paraíso, pouquíssimos chegariam lá. Entre 700 ou 800, talvez não haveria mais do que três ou quatro. Mas, esperem um pouco: não se preocupem. Entendamo-nos. Explico esta exorbitante desproporção temerária: digo que não haveria mais do que três ou quatro que fariam voo sem escala até o paraíso sem antes passar pelas chamas do purgatório. Talvez que algum ficaria lá apenas um minuto, outros talvez um dia, outros, diversos dias ou semanas. Mas quase todos devem passar um tempinho por lá. Querem saber como se evita o purgatório? Procurem conquistar indulgências quanto mais puderem. Se fizerem aquelas práticas a que estão vinculadas, com as devidas disposições, se conseguirem uma indulgência plenária, voarão sem escala para o paraíso.
Sobre este sonho Dom Bosco não deu nenhuma explicação pessoal ou prática para nenhum dos alunos e bem poucas sobre os vários significados dos espetáculos vistos por ele. Não seria coisa fácil. Tratou-se, como mais tarde tentaremos provar, de ideias em quadros múltiplos que ora se sucediam e ora apareciam simultaneamente e que representavam o Oratório no seu momento atual e no futuro, todos os jovens que moravam na casa e aqueles que viriam depois, com seu retrato moral e seu destino no futuro, a Pia Sociedade Salesiana com seu crescimento, suas peripécias e sortes, a Igreja Católica e as odiosas perseguições preparadas pelos inimigos e os triunfos que não lhe faltariam e… assim por diante, com outros fatos gerais e particulares.
Com tais proporções, tramas e confusão de paisagens, Dom Bosco não podia nem sabia expor por inteiro o que se desenrolava tão vivamente dentro de sua fantasia. Era conveniente, e também obrigação, que muitas situações fossem omitidas e comentadas só com pessoas prudentes, para que tal segredo pudesse servir de conforto ou de sobreaviso.
Quando expunha aos jovens os vários sonhos, dos quais falaremos a seu tempo, escolhia o que podia ser de maior benefício para eles, pois era essa a intenção de quem inspirava estas misteriosas revelações. De vez em quando Dom Bosco, em razão da profunda impressão que tinha vivenciado e também pelo crivo da escolha, acenava confusamente e de passagem para outros fatos e coisas e por ideias, até diria, incoerentes e estranhas à narrativa, mas que revelavam omitir mais do que dizia.
Assim ele tinha começado a fazer nestes dias ao descrever seu magnífico passeio, e nós procuramos explicar com brevidade, seja com as palavras de Dom Bosco, seja com nossas diversas reflexões, mas que nós repassamos aos leitores. Diremos:
1º – A colina que Dom Bosco encontra no começo da caminhada parecer ser o Oratório. Sobre a colina sorri esplêndida exuberância de vegetação. Não existem plantas velhas de alto e grosso tronco. Em todas as estações podem-se recolher flores e frutos e assim é e deve ser o Oratório. O Oratório, bem como toda a obra de Dom Bosco, tem como suporte a beneficência de que fala o livro do Eclesiástico no capítulo 40: “Um horto bendito de Deus que dá frutos preciosos, frutos de imortalidade, semelhante ao Paraíso Terrestre onde entre outras havia a Árvore da Vida”.
2º – Quem subia a montanha deve ser aquele homem bendito descrito pelo Salmo 83, cuja força está toda no Senhor. Ele mora na terra, neste vale de lágrimas ascensiones in corde suo disposuit (Em seu coração prepara as subidas – Sl 83,6), decidido a elevar-se continuamente para chegar ao tabernáculo do Altíssimo, ou seja, ao céu. Junto com ele muitos outros. O legislador Jesus Cristo os abençoará, cumulando-os de todas as graças celestes; passarão de virtude em virtude e chegarão a ver a Deus na bem-aventurada Sião e serão eternamente felizes.
3º – Os diversos lagos parecem o compêndio da história da Igreja. Os milhares de membros despedaçados junto às barrancas pertencem aos perseguidores infiéis, aos hereges, aos cismáticos e aos cristãos rebeldes e maus. De certas palavras do sonho se deduz como Dom Bosco via os acontecimentos presentes e também os futuros. A Crônica narra que “ao falar para uns poucos e em particular, sobre aquela depressão vazia que ficava do lado de cá do lago de sangue, Dom Bosco tinha dito:
– Aquela depressão deve ser preenchida especialmente com o sangue de sacerdotes e, talvez, muito em breve.
A Crônica continua:
“Nestes dias Dom Bosco foi visitar o Cardeal De Angelis, e Sua Eminência lhe falou:
– Diga-me alguma coisa para me alegrar.
– Contar-lhe-ei um sonho.
– De bom grado, ouçamos!
– Dom Bosco começou a contar o que descrevemos nas páginas anteriores, mas com mais detalhes e reflexões. Quando chegou ao lago de sangue o Cardeal se mostrou sério e melancólico. Então Dom Bosco truncou a narrativa.
– Termino aqui!
– Continue! – lhe disse o Cardeal.
– Até aqui e basta! – concluiu Dom Bosco. E começou a falar coisas amenas”.
4º – A cena que representa a passagem muito estreita entre dois penhascos, a ponte de madeira (que era a cruz de Jesus Cristo), a segurança para atravessar é o suporte da fé, o perigo de despencar durante a travessia se não houver reta intenção, os empecilhos de todo tipo para chegar onde o caminho é viável; tudo isto, se por ventura não estivermos enganados, indica-nos as vocações religiosas. Os que estavam na praça deviam ser os jovens chamados por Deus para servi-lo na Pia Sociedade. Percebe-se que as pessoas que esperavam para entrar na estrada, que em grande parte dava para o paraíso, estavam contentes, felizes e se divertiam. Isto caracteriza em boa parte uma multidão que não era de adultos. Notamos que no movimento de subir a montanha, uma parte tinha parado, alguns estavam voltando. Não seria o arrefecimento da vocação? Dom Bosco deu a esta parte do sonho um significado que indiretamente podia referir-se à vocação, mas ele achou por bem não comentar.
5º – Na ladeira da montanha, apenas ultrapassados os obstáculos apinhados pelas faldas, Dom Bosco tinha visto gente que sofria. O P. Bonetti escreveu em sua Crônica que “Falando em particular para alguns que perguntaram, ele respondeu:
– Este lugar significa o purgatório. Se eu tivesse que fazer uma pregação sobre este assunto, não falaria senão do que vi. São coisas que causam medo. Digo apenas que, entre os diversos gêneros de suplício, vi os que eram apertados por prensas que debaixo delas viam-se esborrachar as mãos, os pés, a cabeça, e os olhos das pessoas explodiam para fora das órbitas. Ficavam descadeirados, triturados e infundiam um terror indescritível no coração de quem olhava”.
Acrescentamos esta última e importante observação que serve para este sonho e para muitos outros que descreveremos no futuro. Nestes sonhos ou visões, como gostaríamos de chamar, entra quase sempre em cena um personagem misterioso que faz o papel de guia e intérprete para Dom Bosco. Quem seria o tal?… Eis a parte mais surpreendente e bela desses sonhos e que Dom Bosco, ao contar, conservava no recôndito de seu íntimo.
(MB IT VI, 864-882 / MB PT VI, 804-819)
Passeio dos jovens pelo Paraíso (1861)
🕙: 22 min.