Na noite de 9 para 10 de abril, Dom Bosco teve um novo sonho missionário, que contou ao P. Rua, Doli Branda e Viglietti, com voz por vezes entrecortada por soluços. Viglietti o escreveu logo em seguida e, por sua própria ordem, enviou uma cópia ao P. Lemoyne, para que fosse lido por todos os Superiores do Oratório e servisse de encorajamento geral. “Isso, porém”, advertiu o secretário, “é apenas o esboço de uma visão magnífica e muito longa”. O texto que publicamos é o de Viglietti, mas ligeiramente retocado pelo P. Lemoyne na forma para tornar sua dicção mais correta.
Dom Bosco estava nas proximidades de Castelnuovo, na colina, assim chamada, Bricco del Pino, perto do vale Sbarnau. De lá de cima, ele olhava ao seu redor, mas tudo o que via era um denso matagal, espalhado por toda parte, na verdade coberto por uma quantidade inumerável de pequenos fungos.
– Mas este, disse Dom Bosco, é justamente o condado de José Rossi (dessa terra Dom Bosco, brincando, havia criado conde o Coadjutor Rossi): devia ser mesmo!
E, de fato, depois de algum tempo, ele avistou Rossi que, de uma colina distante, olhava para os vales abaixo. Dom Bosco o chamou, mas ele só respondeu com um olhar como se estivesse muito preocupado.
Volando-se para o outro lado, Dom Bosco viu também ao longe o P. Rua que, da mesma forma que Rossi, estava com toda a seriedade, em silêncio, quase dormindo sentado.
Dom Bosco chamou os dois, mas eles, calados, não responderam nem mesmo com um aceno de cabeça.
Então ele desceu daquela colina e caminhou para outra, do alto da qual podia ver uma floresta, mas cultivada e entrecortada por estradas e caminhos. Dali, ele voltou seu olhar ao redor, fixou-o até o fim do horizonte; mas, antes de seus olhos, seu ouvido foi atingido pelo barulho de uma multidão inumerável de crianças.
Por mais que ele tentasse descobrir de onde vinha aquele barulho, não conseguia enxergar nada; então o clamor foi seguido por um grito como se alguma catástrofe tivesse acontecido. Finalmente, ele viu um grande número de jovens correndo ao seu redor, dizendo-lhe:
– Nós o esperamos, nós o esperamos por tanto tempo, mas finalmente o senhor está aqui: está entre nós e não vai mais fugir!
Dom Bosco não entendia nada e pensava o que aqueles meninos queriam dele; mas enquanto estava parado como que atônito no meio deles, contemplando-os, viu um enorme rebanho de cordeiros conduzidos por uma pastora que, depois de separar os jovens e as ovelhas, colocando uns de um lado e as outras de outro, parou ao lado de Dom Bosco e lhe disse
– Está vendo o que está à sua frente?
– Sim, estou vendo, respondeu Dom Bosco.
– Bem, você se lembra do sonho que teve quando tinha dez anos de idade?
– Oh, para mim é muito difícil lembrar! Minha mente está cansada; atualmente não me lembro bem.
– Bem, muito bem: pense sobre isso e se lembrará.
Então, fazendo com que os jovens viessem a Dom Bosco, lhe disse:
– Olhe agora para este lado, dirija o seu olhar e dirijam-no todos vocês e leiam o que está escrito… Bem, o que vê?
– Vejo montanhas, depois mar, depois colinas, depois montanhas e mar novamente.
– Eu leio Valparaíso, dizia um menino.
– Eu leio Santiago, dizia outro.
– Eu leio os dois, replicava um terceiro.
– Bem, continuou a pastora, comece agora a partir desse ponto e você terá uma indicação do que os salesianos terão de fazer no futuro. Vire-se agora para o outro lado, trace uma linha de visão e olhe.
– Estou vendo montanhas, colinas e mares!…
E os jovens aguçavam o olhar e exclamaram em coro:
– Nós lemos Pequim.
Então Dom Bosco viu uma grande cidade. Ela era atravessada por um rio largo sobre o qual havia várias pontes grandes.
– Bem, disse a menina que parecia ser a mestra deles, agora trace uma única linha de uma ponta a outra, de Pequim a Santiago, faça um centro no meio da África e terá uma ideia exata do que os salesianos têm de fazer.
– Mas como fazer tudo isso? exclamou Dom Bosco. As distâncias são imensas, os lugares são difíceis e os Salesianos são poucos.
– Não se preocupe. Seus filhos, os filhos de seus filhos e os filhos deles farão isso; mas mantenham-se firmes na observância das Regras e no espírito da Pia Sociedade.
– Mas onde conseguir tanta gente?
– Venha aqui e dê uma olhada. Está vendo ali cinquenta missionários prontos? Mais adiante, vê outros mais e mais ainda? Trace uma linha de Santiago até o centro da África. O que você vê?
– Vejo dez centros de estações.
– Bem, esses centros que vê formarão estudo e noviciado e darão uma multidão de missionários para atender a esses lugares. E agora vire para o outro lado. Aqui está vendo outros dez centros, desde o meio da África até Pequim. E esses centros também fornecerão missionários para todos os outros locais. Há Hong Kong, Calcutá e, mais adiante, Madagascar. Esses e outros terão casas, estudos e noviciados.
Dom Bosco escutava, observando e examinando; depois disse:
– E onde encontrar tanta gente, e como enviar Missionários a esses lugares? Lá há selvagens que se alimentam de carne humana; lá há hereges, acolá há perseguidores, e como fazer isso?
– Olhe, respondeu a pastora, fique tranquilo. Só há uma coisa a fazer: recomendar que meus filhos cultivem constantemente a virtude de Maria.
– Está bem, sim, me parece ter entendido. Pregarei suas palavras a todos.
– E cuidado com o erro que agora prevalece, que é a mistura dos que estudam as artes humanas com os que estudam as artes divinas, porque a ciência do céu não quer estar misturada com as coisas terrenas.
Dom Bosco ainda queria falar, mas a visão desapareceu: o sonho acabou.
(MB XVIII, 71-74)
🕙: 4 min.