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Um segredo a ser encontrado
É sabido que a fama de Dom Bosco e suas habilidades de realização se espalharam por toda a Itália. Como ele foi bem sucedido em tantos empreendimentos, muitas pessoas lhe pediram conselhos sobre como fazer o mesmo.
Como encontrar os fundos para construir uma igreja? A senhora Mariana Moschetti, de Castagneto di Pisa (hoje Castagneto Carducci-Livorno), lhe perguntou expressamente em 1877. A resposta de Dom Bosco de 11 de abril é admirável em sua brevidade e simplicidade.

Ponto de partida: conhecer a situação
Com a sabedoria prática que lhe veio da criação de sua família e de sua experiência como construtor-realizador-fundador de tantos projetos, Dom Bosco tomou a iniciativa e escreveu inteligentemente que “seria necessário poder conversar para examinar que projetos podem ser feitos e qual a probabilidade de poder realizá-los”. Sem um realismo saudável, os melhores projetos continuam sendo um sonho. O santo, porém, não quer desencorajar imediatamente sua correspondente, e então acrescenta imediatamente “o que me parece bom no Senhor”.

In nomine Domini
Ele começa bem, poder-se-ia dizer, com este “no Senhor”. De fato, o primeiro, e portanto o conselho mais importante que dá à senhora, é “rezar e convidar outros a rezar e fazer comunhão com Deus, como o meio mais eficaz de merecer Suas graças”. A igreja é a casa do Senhor, que não deixará de abençoar um projeto de igreja, se for levado avante por quem confia nEle, ora a Ele, vive a vida cristã e faz uso dos meios indispensáveis. Uma vida de graça certamente merece as graças do Senhor (Dom Bosco está convencido disso), mesmo se tudo é graça: “Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham nela os construtores”.

A colaboração de todos
A igreja é a casa de todos; certamente o pároco é o principal responsável, mas não o único. Portanto, os leigos devem sentir-se corresponsáveis e entre eles os mais sensíveis, os mais disponíveis, talvez os mais capazes (aqueles que hoje poderiam fazer parte do conselho pastoral e econômico de cada paróquia). Eis aqui então o segundo conselho de Dom Bosco: “Convidar o pároco a se colocar à frente de duas comissões tão numerosas quanto possível. Uma de homens, a outra de mulheres. Cada membro dessa comissão se inscreve para uma oferta dividida em três parcelas, uma para cada ano”.
Observação: duas comissões, uma masculina e uma feminina. É claro que, na época, as associações masculinas e femininas de uma paróquia eram normalmente separadas; mas por que não ver também nelas uma “competição” justa e leal em fazer o bem, em administrar um projeto com suas próprias forças, cada grupo “à sua maneira”, com suas próprias estratégias? Dom Bosco sabia o quanto ele mesmo estava financeiramente endividado com o mundo feminino, com as marquesas, com as condessas, com as nobres em geral: geralmente mais religiosas que seus maridos, mais generosas em obras de caridade, mais dispostas “a ajudar as necessidades da Igreja”. Apostar nelas era sabedoria.

Alargar o círculo
De fato, Dom Bosco acrescentou imediatamente: “Ao mesmo tempo, cada um deve procurar doadores em dinheiro, em trabalho, ou em materiais”. Por exemplo, convidar os que vão mandar fazer um altar, o púlpito, os castiçais, um sino, as esquadrias das janelas, a porta maior, as portas menores, os vidros, etc. Mas uma só coisa cada um”. Lindo. Cada um tinha que se comprometer com algo que pudesse considerar com razão seu próprio presente pessoal para a igreja em construção.
Dom Bosco não tinha estudado psicologia, mas sabia – como todos os párocos, e não só eles, sabem – que, fazendo cócegas no orgulho legítimo das pessoas, também se pode conseguir muito em termos de generosidade, de solidariedade, de altruísmo. Além disso, ao longo de sua vida ele precisou de outros: estudar quando criança, ir à escola de Chieri quando jovem, entrar no seminário como clérigo, iniciar seu trabalho como padre, desenvolvê-lo como fundador.

Um segredo
Dom Bosco então mostra-se misterioso com sua correspondente: “Se eu pudesse falar com o senhor pároco, poderia sugerir outro meio; mas não gostaria de confiá-lo ao papel”. Do que se tratava então? É difícil de dizer. Poder-se-ia pensar na promessa de indulgências especiais para tais benfeitores, mas teria sido necessário dirigir-se a Roma e Dom Bosco sabia o quanto isso poderia causar dificuldades com o bispo e outros párocos também envolvidos nas mesmas frentes de construções. Talvez fosse mais provável que fosse um convite confidencial para buscar o apoio das autoridades políticas, a fim de que elas pudessem apoiar a causa. Seria mais conveniente apresentar oralmente a sugestão, para não se comprometer diante das autoridades civis ou religiosas, num momento de oposição feroz entre elas, com a esquerda histórica no poder, mais anticlerical do que a direita anterior.
Que mais poderia ele dizer? Uma coisa que era importante para ambos: a oração. E de fato é assim que ele se despede da sua correspondente: “Rezarei para que tudo corra bem. Meu único apoio tem sido sempre o de recorrer a Jesus no Santíssimo Sacramento e a Maria Auxiliadora. Deus a abençoe e reze por mim, que serei sempre em Jesus Cristo”…

P. Francesco MOTTO
Salesiano de Dom Bosco, especialista em São João Bosco, autor de vários livros. Doutor em História e Teologia, Conferencista Convidado da Pontifícia Universidade Salesiana. Co-fundador e diretor por 20 anos do Instituto Histórico Salesiano (ISS) e da revista 'Ricerche Storiche salesiane' [Pesquisas Históricas Salesianas] (1992-2012); ele é um dos fundadores da Associação dos Estudiosos de História Salesiana (ACSSA), da qual ele é atualmente presidente (2015-2023). Ele foi consultor da Congregação para as Causas dos Santos (2009-2014).